Saúde pública da Paraíba na UTI
O secretário Waldson de Sousa (Saúde, Estado) diz que a culpa pela morte da criança Wagner Silva não é do Estado. Sua colega Roseana Meira (Saúde, João Pessoa) também nega responsabilidade da Prefeitura. Bom, se o poder público não tem qualquer culpa na morte (ou talvez homicídio) da criança, então o culpado deve ser mesmo o menino.
Já começou pela infelicidade de ter adoecido num Estado em que a vida tem pouco ou nenhum valor para quem gere o setor de saúde pública. A insensibilidade como essa gente fala dos problemas de suas áreas é aterradora, beira ao nazismo. As pessoas são tratadas como estatísticas numéricas, enquanto o fator humano é relegado a um mero detalhe.
Vai ser o menino cometeu suicídio apenas para abrir as feridas de um problema que vem se arrastando, há anos, sob direção girassol. A forma como esse modelo administrativo trata médicos, pacientes e testa a paciência do cidadão é de estarrecer. A saúde pública na Paraíba, definitivamente, está na UTI e não deve sair enquanto perdurar essa administração.
Nada funciona como deveria. Por isso, quem paga a conta são os que perdem a vida, servindo de cobaia para burocratas que enxergam no médico um inimigo, e veem o paciente como um número. Impressiona como é tão simples para o secretário Waldson jogar a culpa no Conselho Regional de Medicina por ter interditado o Hospital Arlinda Marques.
Certamente preferia que mais crianças como Wagner Silva morressem por falta de assistência. Impressiona como culpa o procurador Eduardo Varandas, por cumprir seu mister de defender a lei. Certamente pretendia que a Paraíba seguisse fora da lei, para cumprir estatísticas em que o que menos vale é a vida das pessoas que mais precisam.
Impressiona como diante de um problema dessa magnitude, em que as pessoas estão perdendo a vida por falta de assistência, esses gestores não assumam as suas responsabilidades. Querem desconhecer que foram alertados da ilegalidade dos contratos e nada fizeram para se antecipar ao problema. Das duas, uma: ou é incompetência para resolver ou descaso com a vida do cidadão.
No primeiro caso ainda pode ter uma solução, basta substituir o gestor. O que talvez nem mude tanto, porque o modelo é o mesmo para quem estiver no cargo. No segundo, pobre do cidadão que precisar de um Estado que não respeita a vida e se comporta como feitor à frente de um campo de concentração, com o dom de escolher quem deve ou não morrer.
O Governo RC podia muito bem mandar uma MP para a Assembleia, decretando que, a partir de agora, quem inventar de adoecer será responsabilizado pela ousadia de testar a saúde pública no Estado.