DEMOCRACIA EM RISCO Bolsonaro promove grandes manifestações de rua, ataca ministros e Supremo promete reação
Em 25 de agosto de 1961, há 60 anos, o então presidente Jânio Quadros anunciava sua renúncia ao cargo. Era uma blefe. Na verdade, uma tentativa de autogolpe. Não deu certo.
Em 13 de agosto de 1992, o então presidente Fernando Collor de Mello, numa tentativa desesperada de evitar o impeachment, convocou os brasileiros a vestirem verde e amarelo em seu favor. Deu errado. Os brasileiros vestiram, na verdade, luto. Acabou cassado.
Agora, o presidente Jair Bolsonaro vai às ruas e invoca o aval de sua militância para endurecer o jogo com o Supremo Tribunal Federal e, obviamente, mandar um recado ao Congresso Nacional, ante a iminente abertura de um processo de impeachment. É uma aposta perigosa.
Não há como negar que as manifestações desse 7 de setembro foram muito expressivas. Mostraram, especialmente, que os seus seguidores dominaram as ruas, à exemplo do que fazia a militância de Lula e do PT anos atrás e, hoje, pelo visto, não consegue mais.
Porém, se Bolsonaro subiu o tom, calçado no apoio das ruas, e utilizou uma linguagem exagerada para atacar especialmente o ministro Alexandre de Moraes (STF), a quem chamou de canalha, é improvável que o Supremo recue. Os indícios são se acirramento.
É bem verdade que existe quase uma unanimidade indicando que, se Bolsonaro exagerou nos ataques aos ministros, Moraes tem extrapolado na interpretação da Constituição, abrindo procedimentos de investigação que ferem o texto constitucional. Porém, mesmo assim, a indicação é que o Supremo deve dobrar a aposta.
Esse embate pode estressar ainda mais a nossa jovem democracia. É jogo perigoso, que pode levar a resultados imprevisíveis, onde talvez não haja vencidos, nem vencedores. É um cenário apenas de perdedores. O País perde, perdem os brasileiros, perde a democracia.
Apesar de jogo perigoso ter avançado tantas casas na direção da ruptura, talvez ainda reste espaço para o diálogo. Aliás, quando existe boa vontade e consciência de que a democracia comporta divergência porque sua principal característica é a convivência dos contrários, então ainda é possível alguma convergência para evitar o pior.