PENSAMENTO PLURAL Festival da besteira déjà-vu, por Palmarí de Lucena
Em sua crônica, o escritor Palmarí de Lucena observa como “durante a recente Assembleia Geral da ONU, a delegação brasileira demonstrou contundentemente a fragilidade da linha entre conduta pessoal e institucional do Presidente e seus auxiliares sêniores, obtendo parcos resultados após uma jornada dispendiosa”. Confira a íntegra de seu comentário.
Déjà-vu é o sentimento de haver vivido antes uma situação ou evento da atualidade, sentimento que nos traz de volta ao clima moral e intelectual do Brasil a época da chamada “redentora”, o golpe de estado de 1964 e sequelas em todos os aspectos da vida do povo brasileiro. Tal como a abolição da escravatura, muitas de suas inclinações autoritárias e preconceituosas se normalizaram, apesar da redemocratização e promulgação da Constituição Cidadã de 1988 e do estado democrático de direito.
Publicado há cinquenta e cinco anos, o livro “Festival da besteira que assola o país”, retratou com humor pujante um país atolado no pântano da mediocridade e do absurdo, consequência direta de um golpe de estado e escolha indireta de um presidente militar pelo Congresso. O líder castrense mergulhou o País em uma ditadura, extinguindo partidos políticos, criando o SNI para vigiar cidadãos e limpeza ideológica em todos os setores da sociedade, na tentativa de “salvar-nos do comunismo”, usando as mesmas ferramentas autoritárias e antidemocráticas do Regime Soviético e seus aliados.
Desconfiança beirando paranoia, motivou militares a nomear pessoas incompetentes para ocupar cargos-chave no governo, funcionários cuja fealdade aos caprichos e fantasias do regime militar eram o principal requisito para permanência no poder. Decisões questionáveis e insensatas, “besteiras” destes servidores, mergulharam o Brasil em retrocesso e subdesenvolvimento. Sergio Porto e outros tantos jornalistas publicaram de forma icônica sob o heterônimo Stanislaw Ponte Preta, crônicas e matérias sobre os erros do poder, erros que continuam se repetindo atualmente.
Declarações e comportamentos inadequados do Presidente, seus familiares e acólitos políticos sobre meio ambiente, queimadas, pandemia da covid-19, direitos humanos, sempre envenenados com humor tóxico ou linguagem chula, têm se transformado em prenúncios de políticas públicas, muitas vezes extrapolando os limites da legalidade ou do bom costume. Durante a recente Assembleia Geral da ONU, a delegação brasileira demonstrou contundentemente a fragilidade da linha entre conduta pessoal e institucional do Presidente e seus auxiliares sêniores, obtendo parcos resultados após uma jornada dispendiosa, rica em perda de reputação e desgaste da imagem do País.
Temos a CPI, imprensa escrita e falada, sociedade civil e políticos sérios prestando devida atenção aos descalabros e ações equivocadas do governo, aquelas que causam morte e destruição baseadas em mentiras, charlatanismo político, falsos profetas e servilismo de atores políticos subsidiados pelo Erário. “O preço da democracia é a eterna vigilância”, afirma André Naves, não podemos sermos expectadores da trajetória do vírus antidemocrático contaminando o corpo e alma do Brasil. Temos uma vacina eficaz, o voto eletrônico. É só apertar a tecla!
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