PENSAMENTO PLURAL Sequelas do mal da ignorância, por Palmarí de Lucena
O escritor Palmarí de Lucena, sempre antenado com a questão ecológica, está propondo um debate que os candidatos a presidente e a governador sejam provocados sobre os graves problemas ambientais que o Brasil enfrenta. Em sua crônica, Palmarí alerta para a onda de catástrofes como “mudanças intempestivas entre calor sufocante, seguido de enxurradas e temporais”. Confira a íntegra de seu comentário…
“A História está repleta de pessoas que, como resultado do medo, ou por ignorância, ou por cobiça de poder, destruíram conhecimentos de imensurável valor que, em verdade, pertenciam a todos nós. Nós não devemos deixar isso acontecer de novo”. Grito de alerta de Carl Sagan, para muitos o mais famoso cientista EUA da década de 1980 e início de 1990. Ensinamentos que continuam ressoando no cânon profundo da ignorância e descaso com a ciência, dando vazão a comportamentos negacionistas que se materializam no entusiasmo imprudente pelo contágio, por omissões ou distorções de fatos, mentiras deslavadas, usando o medo como uma flecha envenenada.
Experimentamos recentemente mudanças intempestivas entre calor sufocante, seguido de enxurradas e temporais. Ruas alagadas, estradas destruídas, famílias desabrigadas, mortes de pessoas pobres vivendo em condições de moradia inadequadas. Combinação das mudanças climáticas com inequidade de populações suburbanas, são tratados como algo passageiro, impossível de resolver por ser de baixo quilate eleitoral e envolver pessoas cujo grau de pauperismo os relega a margem da influência e prestígio, junto a classe política no poder.
Existe um consenso na ciência sobre o perigo da crise climática e a devastação que provoca gradativamente na agricultura, ao alterar os períodos de plantio e safra, levando à queda na produção de alimentos. Insegurança alimentar, atinge principalmente pessoas em situação de pobreza, as mesmas vítimas de alagamentos, desabamentos, poluição de mananciais e coleta inadequada de dejetos humanos. Na área político-governamental, no entretanto, continuam a desconhecer a ameaça, fazendo de conta que o problema não existe ou que é invencionice da mídia, até mesmo das vítimas de tragédias ambientais.
É estranho e incompreensível esse desdém sobre o perigo das mudanças do clima que, em maior ou menor grau, se apossou de cada um de nós. Nosso desinteresse pelo futuro do planeta é suicida. Mais do que tudo, porém, revela uma ignorância absoluta sobre os alertas da ciência ou, até mesmo, do senso comum. As advertências e os alertas não partem só da ciência, o Papa Francisco nos advertiu que “é criminoso e obsceno destruir a obra divina da natureza em nome da cobiça de um capitalismo predatório, alucinado por lucro fácil”.
O meio ambiente e as mudanças no clima jamais foram tema de debate entre os candidatos nas eleições de 2018, nenhum sequer mencionou a existência do perigo e o que representa para o conjunto da humanidade. Estamos a nove meses das eleições deste 2022 e até agora nenhum dos pré-candidatos se interessou pelo tema. Nós não devemos deixar isso acontecer de novo. O voto livre é nossa única opção, se quisermos estancar a destruição e exploração predatória do meio ambiente, consequente pauperização do povo brasileiro e a lapidagem das instituições e leis relevantes a preservação dos nossos recursos naturais e qualidade de vida, independente da classe social.