PENSAMENTO PLURAL A guerra na Ucrânia: todos têm culpa, por Rui Leitão
O mundo acompanha com apreensão a guerra na Ucrânia. Em sua crônica, o escritor e historiador Rui Leitão critica o tirano russo que pretende se perpetuar no poder, mas culpa “os Estados Unidos, que descumprindo um acordo tácito quando da dissolução da União Soviética, permanece pela Otan, seu braço armado, instalando bases militares no mundo inteiro”. Confira íntegra do texto…
As opiniões sobre o conflito que acontece no Leste Europeu agitam a propaganda fanática de ambos os lados ideológicos. Concepções geopolíticas e filosóficas diferenciadas comportam critérios de análise da guerra por formas distintas. As contextualizações históricas são colocadas na conformidade dos interesses em identificar os responsáveis por sua deflagração. Os fatos apresentados pela cobertura midiática, nem sempre são correspondentes às verdades históricas. Não há inocentes nessa contenda. Todos têm parcela de culpa.
Ao encontrarmos motivos para criticar o presidente da Rússia, um tirano que quer se perpetuar no poder, por ter ordenado a invasão da Ucrânia, dando início à guerra, também não podemos isentar de culpa os Estados Unidos, que descumprindo um acordo tácito quando da dissolução da União Soviética, permanece pela OTAN, seu braço armado, instalando bases militares no mundo inteiro, incluindo países que fazem fronteira com a Rússia, como é o caso da Ucrânia, no propósito de se afirmar como o xerife do planeta.
Nem sei se podemos classificar esse conflito como guerra ideológica entre a direita e a esquerda. Seus ideólogos se misturam nos apoios oferecidos a cada uma das partes beligerantes. Eu me lembro bem que a militante bolsonarista da extrema direita, Sara Winter, dizia que tinha sido treinada na Ucrânia e que havia chegado a hora de “ucranizar” o Brasil. No entanto, o presidente da república tem publicamente externado sua posição em favor de Putin. O regime russo não pode mais ser apontado como de esquerda, assumindo uma postura ultraconservadora e liberal, com traços autoritários, adotando uma agenda reacionária no campo cultural e moral, bem ao gosto da direita brasileira.
As tensões não se originaram agora. Datam de décadas passadas. Porém, nada justifica uma guerra que ameaça a humanidade com o uso de armamentos nucleares. É urgente que se busque uma saída diplomática para por fim a esse confronto bélico de consequências catastróficas. Potências do Ocidente condenaram a invasão da Ucrânia e anunciaram restrições econômicas contra o governo Putin. A população civil ucraniana está pagando o preço da guerra. E porque não dizer, igualmente os cidadãos russos, atingidos pelas medidas restritivas à sua economia impostas pelo Ocidente. Pode ser dito que essa é uma tragédia anunciada. O debate entre as narrativas pró-ocidentais e pró-russas apresenta razões que não se explicam. A desinformação faz parte da guerra híbrida que as potências mundiais contemporâneas procuram implementar para a consecução dos seus objetivos estratégicos.
Infelizmente as negociações para o cessar-fogo não têm produzido os resultados que todos esperam. A Europa enfrenta o maior desafio desde a Segunda Guerra Mundial. Que a paz seja retomada. Que se encontre imediatamente uma solução diplomática para esse impasse. Guerra não faz bem a ninguém.
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