PENSAMENTO PLURAL Um golpe na dialética ideológica, por Ricardo Sérvulo
A dialética é um fenômeno que inicialmente podemos definir de forma bastante genérica, como oposição, conflito originado pela contradição entre princípios teóricos ou fenômenos empíricos. Podemos avançar na ótica do filósofo grego Platão, que a qualificava como um verdadeiro processo de diálogo, um debate entre interlocutores comprometidos com a busca da verdade, através do qual a alma se eleva, gradativamente, das aparências sensíveis às realidades inteligíveis ou ideias.
Para Aristóteles, compatriota do filósofo Platão, a dialética é um raciocínio lógico que, embora coerente em seu encadeamento interno está fundamentado em ideias apenas prováveis, e por esta razão traz em seu âmago a possibilidade de ser refutado. Assim, dos conceitos desses grandes ícones e influenciadores do pensamento filosófico ocidental podemos em síntese depreender que dialética é o convívio dos pensamentos e hipóteses divergentes, sempre em busca de algo sublime e verdadeiro sobre um determinado assunto, tema ou matéria.
Ao transportamos essa técnica de investigação para o campo ideológico, chegaremos à importância da presença desses dois polos de essências antagônicas cada um com seus valores teóricos e verdades históricas. No Brasil, é fato que a esquerda e suas teorias sempre vêm experimentando de uma base bem hegemônica no centro do pensamento intelectual pátrio, eis, em verdade, uma constatação incontroversa, basta atentar para suas atuações nessas fontes de formação de opinião nas últimas décadas, diria nos últimos cinquenta/sessenta anos, mesmo com o advento do regime ditatorial. Só que, nos anos recentes, apareceu um patrono, um timoneiro, quer se goste dele ou não, não há como negar que exerceu um forte aporte de influência no meio intelectual de direita, que atende pelo nome de: Olavo de Carvalho. O escriba, com forte e eloquente conteúdo liberal do ponto de vista econômico e conservador nos costumes virou uma espécie de neogurú dos jovens de direito e dos mais experimentados nas terras antagônicas ao pensamento de esquerda tradicional.
Sua influência veio como uma verdadeira avalanche como um dos protagonistas que deram amparo e apoio à orfandade do pensamento contrário aos chamados aportes e modelos progressistas.
Carvalho tem sido um farol, um uma figura paradigmática, polêmica, controversa, que estimula muitas reações no meio ideológico, em todas as matrizes; para a ala direitista plasma um verdadeiro livro de cabeceira, exemplo disso é o valor que Olavo tem para o presidente da república, Jair Bolsonaro. Repita-se, é de todo direito que não se aprove seus métodos, exposições, ideias e conteúdos, contudo não se pode negar a sua importância histórica, metodológica, cultural de cunho autodidata, e acervo de valores oriundos classicamente da vertente ideológica a quem serviu e o fez com maestria fiel, até a sua morte, na noite no último dia 24 de janeiro do corrente ano, aos 74 anos, que para os padrões de expectativa de vida atuais não tão idoso.
A morte de Olavo de Carvalho representa um golpe na dialética ideológica brasileira, pois o professor Carvalho mesmo que não agrade ao pensamento estético e plástico de boa parte da elite da intelectualidade do Brasil, de modo especial ao setor acadêmico e midiático, sem dúvidas ele ofereceu e ainda fomentará um grande contributo ao que se propõe na dicção e significado de dialética, aqui, na carta discursiva das hostes ideológicas. Acho, sinceramente, que a morte do filósofo de direita traz, paradoxalmente, a imortalidade de suas digitais na qualidade de padrinho do conservadorismo e liberalismo no campo econômico nacional recente.
Em nenhuma área da vida podemos apreciar apenas um lado da moeda, emprestar uma visão monotemática onde quer que seja é muito ruim tal agir, registre-se: pouco democrático e nada inteligente. Sempre é bom lembrar que os contrários fazem parte da vida – dia e noite, terra e mar, doce e salgado, e tantas outras aparentes contradições sob o prisma real e, sobretudo filosófico, digamos assim, este, embalado pelos monstros gregos que aqui falamos. É extremamente salutar conviver e respeitar os contrários, pois essa é a base da vida em uma sociedade que se diz minimamente democrática. Que o pensador Olavo de Carvalho descanse em paz, tanto quanto os seus pares, todavia antagônicos, do ponto de vista ideológico.
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