PENSAMENTO PLURAL O Sol é para todas as escolas, por Palmarí de Lucena
Em sua crônica, o escritor Palmarí de Lucena reflete como, enquanto outros “países estão tomando medidas proativas para a redução de gastos com energia elétrica e combate a mudanças climáticas, o Brasil segue empacado no atoleiro criado pelo fanatismo religioso-ideológico e incompetência de um governo focado na permanência no poder a qualquer custo”. Confira íntegra de seu comentário…
Escolas públicas americanas enfrentando dificuldades de sobreviver com orçamentos decrescentes, estão olhando na direção do sol em busca de soluções viáveis para a manutenção e reparo de prédios, redução de gastos com eletricidade, parcerias com empresas de energia e acúmulo de excedentes para financiar atividades acadêmicas e melhorias salariais, sem empenho de um só centavo de dinheiro do contribuinte, tudo pagos com receitas geradas por uma fonte de energia renovável, o sol.
Da Nova Jersey a California, quase uma de cada dez de escolas públicas e particulares do ensino infantil ao médio, usam energia solar desde o inicio de 2022, o dobro do que existia em 2015. Economias nas contas de energia elétrica, depois de instalação de painéis solares, excederam milhões de dólares em cada distrito escolar, muitos adotaram a tecnologia sem investir ou pré-financiar a instalação de infraestrutura básica.
De acordo com a Casa Branca, energia é o segundo maior gasto de escolas públicas americanas, custando cerca de $8 bilhões de dólares por ano. Estima-se que verbas federais para financiamento do aperfeiçoamento do sistema de energia elétrica de escolas públicas, complementadas com incentivos para adoção de energia solar fotovoltaica, produzirão reduções substanciais de gastos, além de serem peças fundamentais na luta contra as mudanças climáticas
Para a maioria das escolas, a possibilidade de mudar para energia solar depende da aprovação de políticas públicas, permitindo a formação parcerias público-privadas com empresas responsáveis pelo financiamento, instalação, operação e manutenção dos sistemas. Como contrapartida, escolas compram eletricidade a preços reduzidos, mantendo a opção de usar economias geradas para o melhoramento de salas de aula e manutenção da estrutura física do prédio, a modalidade é usada na instalação de 90% dos sistemas de energia solar funcionando em escolas americanas.
O Brasil ainda carece de legislação ou políticas públicas adequadas para instalação de energia solar fotovoltaica ou eólica, em escolas públicas. Projeto de Lei 4946/20 – Programa de Autonomia Energética das Escolas Publicas, tramitando há dois anos na Câmara, autoriza a instalação de sistemas de geração de energia baseados em fontes renováveis e adoção de energia solar pelas próprias escolas. Programa a ser financiado com 60% dos recursos atualmente destinadas para projetos de eficiência energética de empresas de energia elétrica, desconsiderando totalmente a participação de capital ou investimento privado na solução do problema.
Estamos em uma encruzilhada perigosa da educação do jovem brasileiro, escolas são inadequadas, irrelevantes as demandas do mercado de trabalho e desprovidas de incentivos salariais a seus professores e funcionários. Quadro agravado pela predominância de narrativas culturais e dogmas religiosos, pieguismo religioso ensaiado defendendo o domínio religioso-ideológico do sistema escolar, como a única opção legitima. O Brasil é o segundo país com mais jovens de 18 a 24 anos vitimados por desigualdade socioeconômica e precariedade do sistema educacional, representando por 35,9% daqueles jovens que nem estudam, nem trabalham, os “nem-nems”, ficando atrás apenas de uma África do Sul, devastada pelo sistema do apartheid por meio século.
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