PENSAMENTO PLURAL Novo normal das avós, por Palmarí de Lucena
O escritor Palmarí de Lucena aborda, em sua crônica, a situação da mulher na sociedade e no mercado de trabalho, em particular a situação de avós e mulheres chefes de família”, e postula como “políticas públicas relevantes à mulher devem impactar ambas categorias”. Cita o problema da “escassez de creches durante e pós pandemia, aumento de gastos laborais de empregados domésticos, às vezes tragédias pessoais, forçaram os avós de botar a mão na massa para ajudar as filhas a manter-se empregadas ao custo de seus próprios interesses”. Arremate, defendendo a promulgação de uma paridade salarial para “forçar pagamento de pensões por ex-conguês, cujo não cumprimento é muitas vezes compensado por contribuições de avós”. Confira íntegra…
“Na tina, vovó lavou, vovó lavou
A roupa que mamãe vestiu quando foi batizada
E mamãe quando era menina teve que passar, teve que passar
Muita fumaça e calor no ferro de engomar”Coisa da Antiga, Composição: Nei Lopes / Wilson Moreira
Netos da época quando esta canção fez sucesso, hoje são avós e avôs enfrentando desafios de duas tendências demográficas: as pessoas estão vivendo mais, expectativa de vida global cresceu de 51 a 72 anos desde 1960, ao mesmo tempo em que o tamanho das famílias segue diminuindo. Estima-se que em 2050 haverá 2.1 bilhão de avós no mundo, 22% da humanidade, indicando que chegarão a um número maior do que crianças abaixo de 15 anos.
Evidência sugere que crianças progridem mais com ajuda de avós, que são usualmente, na prática, avós maternas. Fenômeno que impacta outro aspecto da revolução social, é a mudança de mais mulheres do trabalho doméstico, para trabalho remunerado.
Transformações enfrentadas pelas avós em decorrência da criação ou supervisão dos netos, relatos indicam que assumir a criação de uma criança numa época da vida mais tardia, onde o trabalho já ocupa um espaço da rotina destas mulheres, levou-as a terem que rever suas vidas profissionais. Trabalho tomou um novo significado, quando as necessidades dos netos passaram a ser de sua responsabilidade.
Estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento examinou o que acontecia com famílias na morte de uma avó, concluindo que seu óbito, diminuiu a 27% a chance de uma filha estar na força laboral, reduzindo seu rendimento salarial por 53%, sem causar efeito negativo na taxa de emprego do pai. Embora realizado no México, o enfoque e metodologia do estudo pode ser adaptada a diferentes matizes do perfil socioeconômico, demográfico, cultural e comportamental de outros países ou regiões.
Em termos gerais, conciliar a educação do neto e o trabalho, prejudicou um dos lados, ocorrendo faltar ao serviço, perder oportunidades de avanço na carreia ou prejudicar empregabilidade, servindo ao mesmo tempo de creche familiar, para a mãe da criança. Arcar com as despesas de um neto, causa impacto financeiro na vida destas mulheres, que muitas vezes fonte de renda alternativa sendo forçadas a postergar aposentadorias ou redistribuir dinheiro já destinado a despesas pessoais, um dos resultados mais severos da sobrecarga financeira imposta a uma avó materna.
Necessitamos políticas públicas de apoio a mulheres, avós ou filhas, no retorno ao mundo do trabalho ou manutenção de uma trajetória laboral condigna de suas habilidades, competitividade e paridade salarial. A função de avós no desenvolvimento e bem-estar de netos não deve transformá-las em refém de sacrifícios pessoais, precarização de estilo de vida, perda de renda em favor de tarefas domésticas, subsídio de despesas familiares, financiamento de escolas particulares, telefonia digital, games e equipamento recreativo movido a energia humana.
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