PENSAMENTO PLURAL Desafios do Nacionalismo Cristão: entre fé, política e identidade nacional, por Palmarí de Lucena
O nacionalismo cristão é uma ideologia fundamentada na crença de que os Estados Unidos são uma nação cristã, estabelecida como tal e destinada a permanecer assim no presente e no futuro. Segundo dados de pesquisa, os nacionalistas cristãos apoiam declarações como a designação dos Estados Unidos como uma nação cristã pelo governo federal e a implementação de leis baseadas em valores cristãos, considerando o cristianismo como um aspecto fundamental da identidade americana. Líderes religiosos e políticos da extrema direita brasileira adotaram a bandeira do movimento americano “porteira fechada”, como uma estratégia para reconquistar o poder político e “cristianizar” as instituições democráticas do País.
Segundo líderes do movimento, com o tempo, os cristãos perderam influência sobre os “Sete Montes” e precisam recuperá-los para reconstruir o mundo com base nos valores cristãos, preparando-o para o retorno de Jesus Cristo. Esses montes incluem família, religião, educação, mídia, lazer, negócios e governo. Essa estratégia, conhecida como “Teologia do Domínio” ou “dominionismo”, tem sido parte da orientação política evangélica, especialmente de algumas igrejas neopentecostais, que estão ganhando destaque no debate eleitoral, a exemplo da participação de Michelle Bolsonaro e lideres religiosos na campanha pela reeleição de seu marido e no palanque itinerante de apoio aos candidatos da extrema direita religiosa nas eleições municipais.
Tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, essa ideologia também envolve uma visão de transformação ou reforma por parte dos cristãos, com o objetivo de restaurar a nação à sua suposta fundação cristã. Além disso, os nacionalistas cristãos estão fortemente engajados na noção de guerra espiritual, entendendo-a como uma batalha cósmica entre o bem e o mal na qual têm o dever de se envolver ativamente.
Líderes evangélicos foram pioneiros no apoio a Donald Trump e na mobilização de cristãos para eventos políticos, como a tentativa de reverter os resultados das eleições de 2020 e as manifestações golpistas de 06 e 08 de janeiro, nos Estados Unidos e Brasil, respectivamente. Os nacionalistas cristãos se veem como participantes de um grande drama, convocados para desempenhar um papel significativo na história dos dois países. Eles interpretam eventos como a invasão do Capitólio Americano e da Praça dos Três Poderes de Brasília, assim como a participação em atividades político-religiosas, como parte de uma luta espiritual mais ampla. Embora alguns possam minimizar essa visão, é importante reconhecer as implicações sérias dessas crenças, especialmente diante de eventos recentes, como ataques a autoridades e ameaças à segurança pública.
Os nacionalistas cristãos se veem como desempenhando um papel importante. São envolvidos por uma narrativa que diz: você está na última batalha. Você tem a chance de fazer algo muito maior do que você. Você vai responder a esse chamado? Porque esses são os momentos, essas são as batalhas que moldarão nosso país. Esta é a guerra cósmica entre o bem e o mal. Você realmente vai ficar de braços cruzados?
Alguns de nós podemos até rir disso, pensar que isso é uma ideia marginal, mas 06 e 08 de janeiro não foram motivo de riso. E alguns dos eventos que vimos desde então, como o ataque às casas de juízes, as evacuações de prédios públicos devido a ameaças de bomba, e muitos outros exemplos de tentativas de demonizar instituições democráticas e questionar o julgamento dos “patriotas”, cuja sanha golpista antidemocrática culminou na invasão e depredação do Capitólio Americano e da Praça dos Três Poderes.
Líderes evangélicos proeminentes participam em manifestações de apoio a Donald Trump e Jair Bolsonaro, demandando perdão para os golpistas e seus apoiadores em nome da liberdade de expressão e da democracia, agora se apoiam na intromissão política do multibilionário empresário americano Elon Musk, cujo interesse principal aparenta ser acesso irrestrito a reservas de lítio em terras indígenas. Isso sugere uma bolha de cumplicidade silenciosa dos nacionalistas cristãos, relegando o Brasil ao status de “república banana” e atropelando os direitos da maioria dos cidadãos brasileiros, tudo em nome de Deus.
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