PENSAMENTO PLURAL O PT em ruínas, por Emir Candeia
Em sua crônica, o analista político Emir Candeia identifica um processo de autodestruição do PT, após acumular vários “escândalos, incoerências e distanciamento de sua base original, o que resultou em uma perda significativa de apoio popular”. Confira íntegra…
O PT, estar trilhando um caminho de autodestruição. Ao longo dos anos, o partido acumulou uma série de escândalos, incoerências e distanciamento de sua base original, o que resultou em uma perda significativa de apoio popular. Os episódios como os escândalos do Mensalão e do Petrolão, a criação de emendas impositivas, a dependência do financiamento público de campanha, a ausência de trabalhadores de base no governo e a priorização de diretrizes identitárias em detrimento de um projeto de desenvolvimento nacional . O resultado é um partido enfraquecido, cujos líderes são constantemente hostilizados em público e que amargaram uma derrota expressiva nas últimas eleições.
1. Escândalos de Corrupção: O Mensalão e o Petrolão
O início do declínio do PT tem como marco os escândalos de corrupção, que minaram a confiança popular no partido. O Mensalão revelou um esquema de compra de votos no Congresso Nacional. Parlamentares eram pagos com dinheiro vivo, em troca de apoio a projetos de interesse do governo petista. As cenas de malas de dinheiro e as prisões de lideranças importantes do partido transformaram o PT em consequência de corrupção para uma parte significativa da população.
Se o Mensalão foi um golpe duro, o Petrolão foi ainda mais devastador. Neste esquema, o PT se envolveu em uma rede de propinas com grandes empreiteiras, onde parte dos recursos desviados da Petrobras financiava campanhas políticas e enriquecia lideranças partidárias. Mais uma vez, o dinheiro vivo foi protagonista, e as operações da Polícia Federal trouxeram à tona um ciclo de corrupção que impactou diretamente a imagem do partido. O discurso ético que sustentava a sigla se desfez e, com ele, a confiança de muitos eleitores.
2. O Uso das Emendas Impositivas: Uma Compra Oficializada
A criação das emendas impositivas, através da Emenda Constitucional 86, foi mais um passo no caminho da autodestruição do PT. O que antes era feito de forma clandestina, como no Mensalão, passou a ser institucionalizado. Agora, os parlamentares têm o direito garantido de indicar a aplicação de recursos do orçamento público, o que, na prática, se tornou uma forma de “compra oficializada de apoio político”. Assim, o PT formalizou aquilo que antes era feito na clandestinidade, mas perdeu o controle do processo, pois o “poder de barganha” foi transferido para o chamado Centrão, um bloco político pragmático e sem compromisso ideológico.
Com as emendas impositivas, o PT perdeu a capacidade de negociar apoio exclusivo e passou a dividir o poder com as bancadas do Centrão. Isso enfraqueceu ainda mais a posição estratégica do partido no Congresso, que agora depende de acordos mais complexos para aprovar suas pautas.
3. Financiamento Público de Campanha: O Tiro pela Culatra
Outro golpe autoimposto foi a aprovação do financiamento público de campanhas eleitorais. Essa estratégia visava evitar a influência do setor privado nas eleições e garantir mais recursos para as campanhas de partidos, incluindo o PT. Porém, o que se viu foi o fortalecimento de outros partidos, especialmente o Centrão, que passou a controlar uma fatia significativa dos recursos públicos.
Com o tempo, o PT perdeu a hegemonia que possuía nos tempos em que dominava o financiamento privado. Agora, o partido precisa disputar o fundo eleitoral com diversas siglas menores, o que impedirá sua capacidade financeira de influenciar campanhas e construir bancadas sólidas. O Centrão, por outro lado, mostrou-se mais habilidoso no uso desses recursos, o que explica o protagonismo político que o bloco conquistou nos últimos anos.
4. Incoerência e Distanciamento da Classe Trabalhadora
Talvez o aspecto mais simbólico da autodestruição do PT seja a sua incoerência em relação à base social que lhe deu origem: os trabalhadores. O partido que se propunha a representar os operários e trabalhadores de chão de fábrica passou a ser dominado por burocratas de sindicatos, e das universidades e representantes de categorias que não enfrentam a dura realidade do trabalho braçal.
O PT se atrasou da classe trabalhadora e da realidade vívida pelo povo. Sua cúpula passou a ser formada por acadêmicos, sindicalistas profissionais e representantes de movimentos identitários. Se antes o operário de macacões era o símbolo do partido, hoje o que se vê são burocratas de gravata que pouco ou nada têm a ver com o trabalhador comum. Essa desconexão se reflete na ausência de trabalhadores de base nas principais cargas de governo.
5. Prioridade em Pautas Identitárias e Esquecimento do Projeto de País
Outro fator que vem causando a ruína do PT é o foco excessivo em pautas identitárias. O partido passou a dar prioridade a questões ligadas às minorias, como gênero, raça e sexualidade, deixando de lado o debate sobre o crescimento econômico e a melhoria das condições de vida da população em geral.
O erro do PT foi colocar esses temas no centro de sua agenda, abandonando o discurso que historicamente unia a classe trabalhadora em torno de objetivos comuns, como o emprego, a renda e o crescimento econômico. Em vez de falar para o povo, o PT passou a falar para nichos específicos, isolando parte da sua base.
O impacto foi sentido nas eleições, onde a sigla sofreu um “pisa” histórico. O PT perdeu a capacidade de se comunicar com o povo e, com isso, suas lideranças passaram a ser hostilizadas em locais públicos. Não é raro ver vídeos circulando nas redes sociais mostrando ex-ministros e ex-presidentes do partido sendo vaiados e expulsos de eventos.
6. O Rejeição Pública: Vaias e Humilhações em Público
A conversa final do desgaste do PT está na destruição pública que suas lideranças enfrentam. Figuras importantes do partido não conseguem frequentar locais públicos sem serem alvo de vaias, insultos e manifestações de repúdio. Isso é um reflexo direto dos escândalos de corrupção, do afastamento dos trabalhadores e da perda de representatividade junto ao eleitorado.
Nas últimas eleições, o partido sofreu uma derrota acachapante. Seus candidatos tiveram menos votos do que se anteriores, e o partido perdeu espaço no Congresso e nas prefeituras. Isso é resultado direto de sua trajetória de erros, de sua incoerência e de sua incapacidade de dialogar com a população. Se, no passado, o PT era a “voz do povo”, hoje ele se tornou o alvo de críticas de pessoas de todas as classes sociais.
Conclusão: O PT em Ruínas
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