LABAREDAS NA BASE… Declarações de João e Galdino revelam dificuldades para manter unidade até 2026
Se não foi um passo bem calculado, o deputado-presidente Adriano Galdino (Republicanos) pode ter pulado do trapézio sem a garantia de uma rede de proteção. De fato, é mais do que legítima a sua decisão de entrar na disputa ao Governo do Estado, dentro da base do governador João Azevedo (PSB).
E, até como chegou a admitir em bombástica entrevista, que a sua candidatura está na praça, mas que aceita dialogar: “Se eu for convencido de que um companheiro meu é melhor do que eu, não tem problema nenhum. Mas me atropelando, eu não aceito de ninguém, que a vida já me deu muita porrada.”
Suas declarações vieram na esteira de recente entrevista de João, admitindo o desejo de deixar o Governo para disputar a senatoria, em 2026. E que, nestas circunstâncias, será natural que seu vice Lucas Ribeiro (Progressistas) assuma o Governo e, eventualmente, possa disputar a reeleição em 2026.
Mas, Galdino, aparentemente, sentiu-se ofendido e escalou: “Do meu ponto de vista, do ponto de vista político e administrativo (a declarção de João) foi desastrosa. Foi desastrosa porque tirou da mídia o evento da segunda-feira de manhã.” O evento foi o lançamento do Programa Paraíba 2025-2026 com investimento previsto de R$ 11,7 bilhões.
E ainda: “Era para você estar comigo conversando sobre o evento, mas estamos falando de política. E só se fala disso na Paraíba toda, porque o próprio governador teve a capacidade de obscurecer seu evento.”
Em tom de mágoa, Galdino afirmou: “Eu mereço pelo menos o respeito de chegar: ‘Adriano, vamos dialogar, eu não gosto de você, ou eu quero você.’ Enfim, seja sincero comigo, diga como é o jogo.”
Galdino arrematou, demonstrando a disposição de seguir com sua candidatura: “Eu vou continuar e, podem ter certeza, paraibanos e paraibanas, eu sou pré-candidato a governador e vou ser governador da Paraíba e vencer as eleições, apesar das dificuldades. Na vida, nunca foi fácil para mim… vou buscar apoio no povo da Paraíba. Vou dialogar com os partidos da base. Vou buscar companheiros que hoje estão na oposição.”
O desabafo de Galdino, na verdade, reflete o cenário que se coloca dentro do esquema do governador, que luta para manter a unidade de sua base, mas sabe das dificuldades para constituir uma chapa majoritária. É tal história, meu caro Paiakan, não se faz omelete sem quebrar os ovos.
Até ajudou para a composição da chapa, a implícita decisão de Hugo Motta (Republicanos) de não mais disputar o Senado, para, uma vez reeleito deputado federal, tentar emplacar mais um mandato de dois anos (2027 a 2029), na Presidência da Câmara, um posto dos mais cobiçados no País. Pelo enorme poder investido e pelas tais emendas.
Com isso, pelo menos em tese, foi aberta uma vaga de Senador na chapa, que seria destinada ao Republicanos. Ocorre que o deputado Galdino, pelo que tem afirmado até hoje, não almeja o Senado, mas o Governo. E João precisa acomodar o Progressistas que, em caso de sua desincompatibilização, deve assumir o Governo com Lucas.
Então, este é um cenário de divergências. Como João precisa dos dois partidos para manter a solidez de sua base, terá de fazer mágica, para compor todas as vontades dos aliados. As labaredas que se ergueram com as declarações de Galdino são uma prova.
Em que pese, a existência de um detalhe: Galdino terá apoio de seu partido, ou mais especificamente com Hugo, para peitar o governador? E, num eventual rompimento, quem perderá mais, meu caro Paiakan? Dai a referência ao salto do trapézio.
Resumo da ópera: apesar de óbvias, as declarações de João fortaleceram o projeto em torno de Lucas, enquanto o revide de Galdino, talvez numa oitava mais alta, pode ter criado muitos embaraços para a sequência do campeonato.
Enquanto isso, os dados estão rolando e há outros atores que operam mais discretamente, como, por exemplo, o prefeito Cícero Lucena. Que, além de ser do Progressistas, é aliados de João e não pode ser subestimado.
As declarações de Galdino foram dadas à Rádio Arapuan FM.