PENSAMENTO PLURAL Selva de concreto, lixo de promessas, por Palmarí de Lucena

A orla virou selva de concreto. É o que postula o escritor Palmarí de Lucena, em seu novo testo. E ainda: “No rastro da ganância, praias são privatizadas, o lixo sufoca a beleza e o crime rouba a esperança. Políticos incompetentes renovam-se nas urnas enquanto moradores pagam a conta com impostos, medo e degradação e a cidade, sem fiscalização, sem ordem e sem alma, afunda sob a indiferença de quem deveria protegê-la”. Prédios substituem a cidade, praias viram negócios e a esperança dos moradores afunda entre lixo, crime e omissão. Confira íntegra…

Enquanto o ciclo vicioso das eleições se repete, continuamos a assistir à ascensão de políticos desprovidos de qualquer qualificação ou compromisso real com o bem público. Cada mandato renovado é um cheque em branco para a degradação da qualidade de vida da população.

Casas são impiedosamente demolidas para dar lugar a torres de ferro e concreto, transformando as orlas marítimas — outrora orgulhos da paisagem urbana — em selvas sufocantes. O turismo desordenado invade calçadas e praias, deixando atrás de si um rastro de lixo plástico, sujeira e destruição. Ônibus rodoviários de turismo, sem qualquer estrutura adequada para estacionamento, param irregularmente em ruas e avenidas, bloqueando vias públicas e agravando o já insuportável congestionamento.

A desordem se estende às barracas de praia, onde a venda indiscriminada de bebidas alcoólicas para menores corre solta, sem fiscalização efetiva. A criminalidade, especialmente os furtos de celulares, cresce assustadoramente nas cidades litorâneas, espalhando medo entre turistas e moradores. Mesmo assim, a presença de policiamento preventivo é quase inexistente.

Nas áreas destinadas ao lazer, o caos também se instala: veículos de recreio e pequenas motos elétricas invadem as faixas exclusivas para bicicletas, pondo em risco ciclistas e pedestres. A convivência, que deveria ser harmoniosa, transforma-se em um perigo constante, fruto da ausência de fiscalização e do improviso irresponsável que marca a gestão pública.

Enquanto isso, as praias — patrimônio de todos — estão sendo silenciosamente privatizadas. Locadores de tendas, cadeiras e sombreiros avançam sobre a faixa de areia, cobrando valores exorbitantes pelo direito de usufruir de um espaço que deveria ser livre, democrático e protegido pelo Estado.

Diante de tantos desmandos, a ausência de servidores municipais para ordenar o trânsito, multar infratores ou fiscalizar irregularidades torna-se gritante. A prática de ambulantes portando crachás — costumeiramente distribuídos em épocas eleitorais — segue vigorando livremente, mesmo fora do período de campanha.

Enquanto tudo isso acontece, políticos empoderados pelo dinheiro fácil das emendas parlamentares percorrem o estado em busca de novos eleitores e cargos mais altos nas complexas e inchadas nomenclaturas do poder. E tudo, como sempre, às custas do contribuinte — que, muitas vezes, acaba por renovar, nas urnas, o mesmo ciclo de incompetência e corrupção.

A conta, inevitavelmente, sobra para quem trabalha, paga impostos e vê, dia após dia, a cidade e a esperança serem soterradas sob os escombros da omissão, da ganância e da mediocridade política.

 

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