PENSAMENTO PLURAL A mulher linguaruda e o marido dominado, por Emir Candeia

Em seu comentário, o professor Emir Candeia trata de um tema antigo, que envolve as químicas do poder, desde a Antiguidade, sobre o peso das palavras quando ditas de forma inconveniente. “O peso das palavras é muitas vezes maior do que o de decisões oficiais. O que dizer, então, quando as declarações vêm da própria companheira do chefe de Estado?”, indaga Emir. Confira íntegra…

O povo olha e pensa: quem governa? Quem fala por quem? E quem cala por medo ou conveniência Maquiavel, escreveria : “Quando o príncipe precisa corrigir a fala da princesa, não há mais governo, só reação.” O peso das palavras é muitas vezes maior do que o de decisões oficiais. O que dizer, então, quando as declarações vêm da própria companheira do chefe de Estado?

O País tem assistido a episódios em que a figura feminina mais próxima do mandatário nacional se manifesta de forma impulsiva, inapropriada ou politicamente desastrosa. Ela tem buscado o palco. E o palco, diferentemente da sala de estar, cobra caro por cada gesto fora do roteiro.

O próprio chefe do Executivo tentou assumir o desgaste provocado por essas falas. Disse ter sido ele o autor de palavras que, na realidade, não partiram dele. Uma tentativa clara de proteger a instituição querendo mostrar que ele é quem manda. No entanto, o esforço se desfaz quando a mesma protagonista retorna à cena para desmenti-lo, afirmando, com naturalidade, que a iniciativa foi dela — expondo, mais uma vez, a falta de coordenação e a fragilidade do entorno presidencial.

O episódio . Revela uma confusão preocupante entre a vida pública e a esfera privada. O que deveria ser um núcleo de contenção se transforma, ciclicamente, em um foco de instabilidade e ruído político.

Não se trata de questionar o papel das mulheres próximas ao poder. Ao contrário: a história está repleta de figuras femininas que exerceram influência decisiva de forma respeitosa e estratégica . A questão é o uso dessa influência como palco de protagonismo pessoal, sem responsabilidade institucional. Quando isso ocorre, o preço recai não sobre o indivíduo — mas sobre o país.

Então: quem fala em nome do governo? Quem age com respaldo institucional? E, acima de tudo, quem responde pelas consequências?
Quando o presidente precisa corrigir publicamente falas da própria companheira, o que se vê não é apenas constrangimento pessoal — é a exposição de um vácuo de comando, uma crise de autoridade e um custo político desnecessário.

O Brasil já enfrenta desafios suficientes. Não pode se dar ao luxo de governar à sombra de improvisos e desmentidos.

 

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