Em seu comentário, o músico Paulo Vinícius Cabral trata das incongruências que têm norteado a política do Brasil, e comenta sobre a atuação do Supremo Tribunal Federal, como suporte a um determinado esquema político de uma forma, segundo o autor, que não dá margens a dúvida de que lado está. PVC também questiona recente divulgação do IBGE de um mapa do Brasil de cabeça pra baixo, “um absurdo”. Confira íntegra…
O Brasil atual, em todos os aspectos, tornou-se um moto-contínuo de absurdos que se sobrepõem, de modo que quando o anterior, pela insistência, é normalizado, passa-se a se discutir os seus efeitos ao invés de combater peremptoriamente a sua causa, e logo vem outro ainda mais absurdo, e assim sucessivamente.
No campo político e institucional, não faz muito tempo, um sujeito sabidamente criminoso que não poderia ocupar quaisquer funções públicas, por obra de um absurdo, se torna candidato, se elege (sabe o Diabo como – e este tem nome) e. consoante preconizado por um político que, absurdamente hoje é seu vice, volta à cena do crime e a cometer os mesmos absurdos que o levaram à prisão. O Diabo é tão astuto que colocou uma letrinha no que era chefe na cadeia para se transformar em chefe na cadeira e trazê-lo de volta ao comando da quadrilha ansiosa pela continuidade dos saques ao país.
Sempre que se nos aparece uma pesquisa de avaliação desse governo, eu simplesmente não respondo, simplesmente porque no momento que eu avaliar, mesmo que com a pior nota, um governo que é ilegítimo na sua gênese, eu estarei dizendo que ele é péssimo, mas concordando que ele é legítimo.
É algo comparado a um grupo de pessoas que moram em determinado condomínio, e de repente se deparam com alguém comprovadamente ladrão ocupando a posição de síndico, e que sequer fora eleito pelos condôminos, sentar na cabeceira de uma assembleia para discutir os problemas do prédio e ao final pedir para avaliar a sua administração. Isso seria simplesmente dar o recibo da fraude.
De outro lado, temos uma Suprema Corte de Justiça que, a despeito de ter a função precípua de defender e zelar pelo cumprimento da CF, é a primeira a rasgá-la, e diuturnamente pisoteá-la, cometendo absurdos jurídicos de todas as maneiras imagináveis e inimagináveis, a ponto de abrir inquérito de ofício, sem a necessária provocação da PGR, entre outras teratologias; julga cidadãos comuns atropelando a competência das instâncias legítimas para o caso, e agora ao invés de simplesmente tornarem nulos esses julgamentos, se discute o absurdo dos anos das penas de prisão a que essas pessoas foram sentenciadas, sem falar na completa ausência do processo legal e dos direitos de ampla defesa e individualização dos casos.
É o rolo compressor da tirania sem os freios – leia-se Congresso Nacional em sua maioria -, ladeira abaixo, atropelando inclusive a legítima representatividade popular de 315 deputados que recentemente decidiram com base nas prerrogativas constitucionais de suspensão de inquéritos contra membros da casa, e vêem absurdamente essa decisão ser desmoralizada pela caneta de um grupelho de juízes que nunca tiveram um voto do povo, muito menos respaldo na CF.
E segue, solenemente, o enterro da verdadeira justiça. Parece absurdo,mas é fato: nunca , em tempo algum, o Brasil precisou tanto da ausência da justiça ( dessa justiça) para ser feliz. Uma justiça que não cumpre sua função de isenção, que interfere acintosamente na vontade do povo, com juízes patrocinados em eventos por empresas têm processos fiscais em julgamento, essa justiça não serve ao povo. Ela se serve do dinheiro do povo em proveito próprio sob o discurso falacioso e cínico de defensora da democracia.
Para além dos absurdos do campo da juristocracia instalada, e para aumentar a safra de absurdos que temos visto, a sociedade doentia, agora inventa a moda dos bebês de borracha, e pior do que a idiotice das “ mães e pais dos bebês rebornes“ só mesmo a discussão sobre o direito que essas pessoas desocupadas acham que têm em registar, batizar e ter atendimento pediátrico para seus “filhos “.
Já tem deputado até perdendo tempo e fazer projeto de lei para regulamentação desse devaneio. É como se fosse preciso perder tempo discutindo obviedades do tipo se o sal é salgado, se o açúcar é doce, ou se as crianças nascem, ou não , do encontro de um espermatozóide com o óvulo.
E segue a safra de absurdos. No campo do jornalismo lacrador e vergonhoso da grande mídia , a rede Goebbels et caterva se mostra preocupada, pra dizer o mínimo, porque descobririam que o novo Papa da Igreja Católica é católico, é contra o aborto e vê a união de homem e mulher como base da família. Só falta dizerem: “onde já se viu tamanha heresia!.” Pior do que esse absurdo é a gente ver uma entrevista de uma pessoa ,que se diz defensora da igualdade racial, achar um absurdo que entre oitocentas pessoas que subiram o monte Everest recentemente não havia nenhum alpinista negro. Faltou só reclamar da cor branca da neve.
Para fechar com chave de ouro o festival de absurdos, a gente abre os jornais eletrônicos e se depara com a foto de ninguém menos do que Dilma Rousseff e Márcio Pochmann (ele atual presidente do IBGE e ela dispensa comentários ) na Rússia, ostentando com orgulho suas melhores habilidades cerebrais com o mapa mundi nas mãos, com os continentes de cabeça para baixo.
Nada mais a acrescentar, a não ser a esperança de que, como nas montanhas russas, no final desse passeio assustador de quatro anos, o Brasil volte a ficar de cabeça para cima.
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