PENSAMENTO PLURAL Ambição desvelada da OpenAI: uma nova era sem teclados, por Palmarí de Lucena

A OpenAI quer romper com celulares e computadores, criando um dispositivo próprio movido por inteligência artificial. Ao lado de Jony Ive,  responsável por produtos icônicos como o iPhone e o iMac, de eliminar teclados e telas, tornando a IA o centro da vida digital. “É uma jogada ambiciosa: controlar não só o software, mas também o aparelho, os dados e a rotina dos usuários, mas, por enquanto, só promessa”, é o tema do comentário do escritor Palmarí de Lucena. Confira íntegra…

A OpenAI acaba de deixar claro que seu apetite não se limita ao desenvolvimento de softwares inteligentes. A empresa quer moldar o próprio meio pelo qual interagimos com a tecnologia. A aposta é ousada: criar dispositivos físicos pensados exclusivamente para a inteligência artificial. Na visão de seus líderes, as telas, teclados e smartphones, que há décadas mediam nossa relação com o mundo digital, tornaram-se ferramentas obsoletas diante do avanço dos assistentes de IA.

Para transformar essa visão em realidade, a OpenAI firmou parceria com Jony Ive, lendário designer da Apple, responsável por produtos icônicos como o iPhone e o iMac. O projeto prevê a criação de um novo ecossistema de dispositivos, algo que supere a lógica dos computadores e smartphones atuais. Mais do que uma simples inovação estética, trata-se de uma ruptura: condensar a vida digital em um objeto que seja, ao mesmo tempo, cérebro auxiliar, conselheiro, assistente e portal para o mundo.

Se bem-sucedida, essa empreitada poderá não apenas redefinir o conceito de dispositivo pessoal, como também acelerar de forma exponencial o domínio comercial da OpenAI. A empresa, que já se consolidou como ferramenta de busca, secretária virtual, consultora profissional e até marketplace, agora quer eliminar intermediários. Afinal, hoje ela depende dos celulares e navegadores de gigantes rivais como Apple, Google e Microsoft para alcançar seus usuários. O objetivo é claro: transformar-se na plataforma central da vida digital de bilhões, acumulando dados, rotinas e hábitos de forma tão integrada que a simples ideia de mudar de sistema se tornará impraticável.

O mercado já testemunhou algumas tentativas frustradas de criar dispositivos voltados para IA, como pinos inteligentes, óculos e outros gadgets vestíveis, que naufragaram antes de sequer se popularizarem. A promessa da OpenAI, contudo, carrega um diferencial: combina a expertise de quem reinventou a interação digital com quem desenvolveu o mais bem-sucedido chatbot do planeta.

Por outro lado, a corrida pela incorporação da IA nos dispositivos tradicionais revela um cenário de adaptações apressadas e, muitas vezes, desastrosas. Grandes players tentam, a todo custo, modernizar produtos envelhecidos. Google, Amazon, Apple e Meta adicionam funcionalidades de IA em plataformas que já dão sinais de esgotamento. Sites entulhados de lixo otimizado, assistentes que oferecem conselhos perigosos, marketplaces inundados de produtos irrelevantes e redes sociais em colapso ético e funcional formam o retrato de uma indústria que envelheceu sem se reinventar.

O movimento da OpenAI expõe, de forma cristalina, um reposicionamento estratégico: deixar de ser apenas um motor de IA hospedado em plataformas alheias para se tornar, ela própria, a dona do dispositivo, do sistema, da interface e dos dados. Trata-se de um salto que vai muito além da tecnologia — é uma disputa definitiva pelo controle do futuro digital. A diferença é que, por enquanto, não há produto nas prateleiras. O que existe é uma promessa, uma visão. E, como a história da tecnologia ensina, não basta ter uma ideia brilhante — é preciso torná-la real.

 

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