Em seu comentário, o escritor Palmarí de Lucena traça um paralelo entre uma aliança comercial com os Estados Unidos ou com a China, em meio ao tarifaço imposto pelo presidente Trump aos produtos brasileiros. “Olhando com atenção para o que cada país compra do Brasil, essa troca seria extremamente prejudicial para o desenvolvimento da nossa economia”, diz. Confira íntegra…
Alguns brasileiros têm defendido a ideia de que o Brasil deveria reduzir suas relações comerciais com os Estados Unidos e se aproximar mais da China. À primeira vista, isso pode parecer uma alternativa estratégica. Mas, olhando com atenção para o que cada país compra do Brasil, essa troca seria extremamente prejudicial para o desenvolvimento da nossa economia.
Imagine que o Brasil seja um restaurante. Os Estados Unidos são um cliente que vem, senta, olha o cardápio e pede pratos prontos — sofisticados, com valor agregado — como aviões, carros, peças de máquinas. Já a China é o cliente que só compra ingredientes crus: arroz, feijão e carne, para cozinhar em casa. Quem dá mais lucro para o restaurante? Obviamente o cliente que compra a comida pronta, pois além do ingrediente, está pagando pela preparação, pelo trabalho, pela tecnologia.
É exatamente isso que acontece no comércio internacional. Os EUA compram produtos manufaturados do Brasil, como aeronaves, automóveis, aço e peças para a indústria automobilística. Isso movimenta nossa indústria, gera empregos qualificados, incentiva pesquisa e inovação. Já a China, apesar de ser nosso maior parceiro comercial em volume, compra basicamente soja, minério de ferro e petróleo bruto — produtos que pouco empregam gente qualificada e saem daqui quase sem transformação.
Ou seja, quando vendemos para os EUA, desenvolvemos a indústria nacional. Quando vendemos para a China, viramos apenas um fornecedor de matéria-prima — o que nos coloca de volta a um papel colonial, de país exportador de insumos baratos.
A substituição de um mercado por outro sem analisar o tipo de produto que está sendo exportado é um erro estratégico. O Brasil precisa de parceiros que comprem nossos produtos com maior valor agregado, não apenas o que está no chão ou no campo. Caso contrário, estaremos condenados a continuar como uma economia de base primária, sem progresso tecnológico e com baixo crescimento econômico.
Portanto, a solução não é trocar os EUA pela China, mas diversificar os mercados e fortalecer nossa indústria para exportar mais produtos acabados. O desenvolvimento sustentável e duradouro do Brasil passa por vender inteligência, e não apenas natureza.
Trocar um parceiro por outro sem mudar a base da nossa economia é trocar seis por meia dúzia, ou pior: é se prender ainda mais a um modelo que já provou ser limitante. Se quisermos crescer de forma sólida, o Brasil precisa sair da posição de fornecedor de commodities e voltar a ser um país que transforma, fabrica, inova.
A chave está na reindustrialização. É ela que vai permitir que o Brasil exporte não apenas ferro, mas máquinas, não apenas soja, mas tecnologia agrícola, não apenas petróleo, mas soluções energéticas. Uma economia baseada em indústria é uma economia que gera empregos de qualidade, atrai investimentos em pesquisa e produz conhecimento.
Portanto, a pergunta central não é se devemos vender mais para os EUA ou para a China. A pergunta é: quando o Brasil vai voltar a produzir e exportar bens de alto valor agregado?
A resposta está em políticas que incentivem a produção nacional, em educação técnica e científica, e em um projeto de país que mire o futuro — não a estagnação.
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