PENSAMENTO PLURAL Quando se controla a informação o poder vira dono da verdade, por Emir Candeia

Em seu comentário, o professor Emir Candeia chama atenção para a necessidade da manutenção da liberdade de expressão como um dos pilares de qualquer democracia. E diz que “a informação empodera, enquanto um filtro estatal, ao contrário, infantiliza o cidadão, tratando-o como incapaz de discernir o que é bom ou ruim, o que é verdadeiro ou falso, e a desinformação se combate com mais informação”. Confira íntegra…

Introdução
Em um mundo onde o acesso à informação nunca foi tão amplo, alguns governos enxergam isso não como um avanço — mas como uma ameaça. A China é o exemplo mais emblemático de um Estado que quer domesticar os algoritmos de recomendação e censurar o que o cidadão pode ou não ler, ver e pensar. E, infelizmente, o Brasil caminha perigosamente na mesma direção, com declarações explícitas da primeira-dama Janja e do presidente Lula em apoio ao modelo chinês de controle da internet.

Essa postura é perigosa, porque quando se controla a informação, se controla a mente das pessoas. A “moderação centralizada” dos algoritmos não é uma solução — e uma defesa firme da liberdade, da inteligência individual e do direito à verdade, mesmo quando ela incomoda.

1. Quanto mais acesso à informação, mais inteligência se forma
Um adulto amadurece intelectualmente à medida que expande seu contato com o mundo, especialmente através da informação. A ideia de que devemos limitar o acesso ao conteúdo para “proteger” as pessoas é paternalista e autoritária.

Um indígena no interior da Amazônia, com acesso livre à internet, sabe mais sobre medicina, astronomia e geopolítica do que um general romano que comandava exércitos com base apenas em mitos, mapas rudimentares e ordens do imperador.

A informação empodera. O filtro estatal, ao contrário, infantiliza o cidadão, tratando-o como incapaz de discernir o que é bom ou ruim, o que é verdadeiro ou falso. 2. Desinformação se combate com mais informação, não com censura, quando se cala uma mentira, não se destrói o erro; apenas se esconde o debate.

O enfrentamento da desinformação se dá com educação, multiplicidade de fontes e confronto de ideias, e não com comitês a versão é autorizada, vira dogma, não verdade. 3. O modelo chinês é o oposto da liberdade
A China controla rigidamente os algoritmos de recomendação, censura termos-chave nas buscas, remove críticas ao Partido Comunista, e proíbe qualquer conteúdo que desafie a narrativa oficial. É um modelo de internet vigiada, onde a tecnologia serve ao controle, não à emancipação.

Os três argumentos centrais do governo chinês são:

Que os algoritmos espalham vulgaridade;

Que as pessoas vivem em “casulos de informação”;

Que a criatividade está ameaçada pelos conteúdos populares.

Tudo isso é apenas uma cortina de fumaça para justificar a centralização da verdade. É um discurso de fachada para manter o poder nas mãos de poucos e calar vozes dissidentes. 4. Lula e Janja: flertando com a censura digital
O governo brasileiro seguindo o mesmo roteiro da China. Em 2024, Janja, companheira do presidente Lula, pediu diretamente ao governo chinês o envio de um “especialista” para ensinar o Brasil a controlar as informações da internet. É uma declaração pública de que o governo brasileiro deseja controlar o que circula online, sob a lógica de que o povo precisa ser “protegido” de conteúdos considerados problemáticos — pelas autoridades, é claro.

Quem decide o que é “problemático”? O mesmo governo que persegue adversários políticos, instrumentaliza instituições e se incomoda com o contraditório?

Esse tipo de aliança ideológica com regimes autoritários não tem nada a ver com desenvolvimento ou soberania digital. É apenas mais um passo rumo ao controle total da narrativa pública. 5. Quando se restringe a informação, o mais poderoso vira o dono da verdade
Quem restringe o acesso livre à informação, quem já tem poder passa a ditar a realidade. A censura nunca é neutra. Ela sempre serve a alguém — geralmente aos que temem ser confrontados, questionados ou expostos.

A verdade, quando livre, é incômoda — mas é isso que a torna valiosa. Ela nos tira da zona de conforto, testa nossas crenças, revela os erros e sustenta os acertos. 6. O cidadão precisa de liberdade, não de tutores
A proposta de “moderar” os algoritmos parte da ideia de que o cidadão não tem capacidade crítica. Mas isso é um insulto à inteligência humana.

O verdadeiro caminho é ensinar as pessoas a pensar, a comparar fontes, a buscar diferentes pontos de vista. Quem vive numa bolha não precisa de um sensor do Estado — precisa de educação e incentivo ao pensamento plural.

Conclusão: Internet livre é democracia viva
A internet é imperfeita, caótica e muitas vezes barulhenta. Mas é exatamente essa liberdade desorganizada que a torna tão poderosa. Um espaço onde ideias podem circular, se chocar, se transformar.

Quando governos querem “organizar demais”, o que fazem é amordaçar. O modelo chinês não é um exemplo — é um alerta.

E quando o presidente Lula e Janja se aproximam desse modelo, pedindo conselhos ao governo que mais censura no mundo, o Brasil flerta com a autocracia digital.

 

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