PENSAMENTO PLURAL O segundo mandato de Trump e a corte de bajuladores brasileiros, por Palmarí de Lucena

Em seu comentário, o escritor Palmarí de Lucena afirma que, “com a volta de Trump ao poder, bolsonaristas redobram a bajulação, enxergando no novo mandato do americano uma chance de retorno político”. E ainda: “Ignoram o golpismo de 8 de janeiro e inundam redes sociais com ataques à democracia brasileira. Enquanto isso, planejam um segundo mandato ainda mais radicalizado, premiando lealdade cega em vez de competência.” Confira íntegra…

Com o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos se desenhando como um fato consumado, uma legião de bajuladores brasileiros já se agita. Liderados por Jair Bolsonaro — mesmo inelegível —, esses aduladores veem no segundo mandato de Trump uma oportunidade dourada para reabilitar a extrema direita no Brasil, criminalizar o contraditório e restaurar um projeto autoritário interrompido pelas urnas e pela justiça.

Trump retorna com mais raiva, mais sede de revanche e menos limites institucionais. E isso inspira seus seguidores tropicais, que tratam sua vitória como redenção. A guerra cultural volta à cena, as mentiras são recicladas e o desprezo pelas instituições democráticas ganha tom de heroísmo. A pauta é importada com entusiasmo: antifeminismo, negacionismo climático, fake news religiosas e desmonte das universidades.

O mais estarrecedor, porém, é ver apologistas e acólitos — influenciadores, políticos e “comentaristas de rede” — invadirem as mídias sociais denunciando supostos abusos e a “falta de democracia” no Brasil, sem uma única palavra de condenação firme ao estado de exceção que os golpistas de 8 de janeiro de 2023 queriam implantar. Preferem transformar invasores de prédios públicos em mártires, ignorando as imagens, os depoimentos e a destruição real — em nome de uma narrativa conveniente.

Esses arautos da pós-verdade não querem democracia. Querem impunidade. E miram o exemplo de Trump para deslegitimar qualquer tentativa de responsabilização institucional. Quando o ex-presidente americano fala em “perseguição política” por enfrentar dezenas de processos judiciais, os bolsonaristas fazem eco automático, como se investigar crimes fosse um atentado à liberdade.

A bajulação agora virou estratégia política. Bolsonaro e seus aliados mais fiéis — pastores sem preparo, militares ressentidos e empresários oportunistas — alinham-se ao trumpismo não por convicção, mas por cálculo. O retorno de Trump é visto como um sinal verde para repetir no Brasil o mesmo modelo: aparelhamento das instituições, culto ao líder, desinformação em escala industrial.

E o mais alarmante: o segundo mandato que se desenha para Bolsonaro, caso consiga retornar ao poder, será ainda mais obscuro. Já se fala em criminalizar o STF, fechar agências reguladoras, censurar a imprensa, desmantelar políticas ambientais e silenciar universidades. Os incompetentes, os fanáticos e os bajuladores assumiriam posições-chave. Não por mérito, mas por servilismo.

A bajulação tornou-se política de Estado. Os bajuladores não são mais caricaturas folclóricas — são operadores ativos da destruição institucional. Ignoram a ciência, desprezam a Constituição, atacam jornalistas, e ainda se apresentam como defensores da pátria, da fé e da família. Mas seu único compromisso é com o poder pelo poder.

É preciso dizer com todas as letras: quem relativiza o 8 de janeiro não defende a democracia. Quem bajula Trump e Bolsonaro não quer justiça — quer blindagem. E quem transforma mentiras em programa de governo não representa o povo, mas os interesses de uma minoria barulhenta, ressentida e perigosamente articulada.

Enquanto a sociedade seguir tolerando esse teatro, corre o risco de acordar, mais uma vez, com a democracia empalhada e os bajuladores no comando.

 

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