PENSAMENTO PLURAL O Brasil não quebra por falta de dinheiro, mas por falta de vergonha com os gastos, por Emir Candeia

Em seu comentário, o professor Emir Candeia faz o contraponto entre os gastos do Governo e a necessidade de enxugar a máquina, para o bem da economia brasileira. “Um Estado que gasta mal, cobra muito e produz pouco é um parasita de si mesmo. E uma sociedade que aplaude isso, achando que o dinheiro cai do céu ou virá do “rico”, está apenas cavando a própria miséria”, pontua. Confira íntegra…

As contas públicas no Brasil. De um lado, governos gastando como se não houvesse amanhã; do outro, parte da sociedade apoiando cegamente criação de novos cargos, mais benefícios, mais feriados — como se a economia fosse uma máquina de imprimir dinheiro sem limites. Enquanto isso, a produção estagna, a indústria definha e a conta chega, com juros, para os que realmente trabalham.

O que a França está fazendo — e o Brasil ignora. A proposta do governo francês de eliminar dois feriados e congelar benefícios é uma resposta dura, mas realista, a uma crise orçamentária. O primeiro-ministro François Bayrou: reconhece que o país está “viciado em gastos públicos” e que essa é a última parada antes do precipício. É uma frase que poderíamos importar com urgência.

Aqui. O presidente Lula quer criar mais um feriado nacional, estendendo uma celebração regional da Bahia para o país inteiro. Isso enquanto o déficit cresce, a dívida pública sobe e a arrecadação depende cada vez mais de tributar o consumo e a produção, não o patrimônio ou os privilégios.

Governos populistas adoram se apresentar como protetores dos pobres, mas frequentemente são apenas protetores de uma máquina estatal inchada, corporativista e ineficiente. Cortar gastos virou palavrão. Rever auxílios virou “perda de direitos”, mesmo que esses direitos sejam mantidos com dinheiro que não existe.

O brasileiro precisa entender: não há almoço grátis. Se o Estado gasta mais do que arrecada, ele vai pegar emprestado — e quem paga essa dívida com inflação, juros altos e desemprego é o cidadão mais pobre, não o deputado com auxílio-moradia.

Produzir menos e gastar mais: receita para o fracasso. Um país não pode crescer distribuindo sem produzir. O Brasil caiu de 25% para cerca de 10% de participação da indústria no PIB em poucas décadas, e continua empurrando as fábricas para fora. Na França o CEO da Michelin foi direto ao dizer que “produzir na França custa o dobro” — e está desviando investimentos para fora. O mesmo vale para o Brasil. Aumentamos IOF, criamos novos tributos, sufocamos a iniciativa privada e depois choramos a fuga de capital.

Parte da sociedade , Há quem defenda, com fervor quase religioso, que a solução é mais Estado, mais presença, mais gasto. Mas a pergunta que nunca fazem é: quem vai pagar por isso?

O cidadão que apoia ou fica calado com os aumentos de salários nos setores públicos como no congresso e no judiciário , apoia a criação de mais feriados, perdão de dívidas, sem falar em “justiça social”, muitas vezes não entende que justiça social só existe com base produtiva sólida. Distribuição sem produção é esmola disfarçada de direito.

Ou mudamos ou vamos quebrar — de novo. Não se trata de ser contra o social. Trata-se de ser contra o autoengano coletivo. Um Estado que gasta mal, cobra muito e produz pouco é um parasita de si mesmo. E uma sociedade que aplaude isso, achando que o dinheiro cai do céu ou virá do “rico”, está apenas cavando a própria miséria.

O Brasil precisa de menos narrativas e mais responsabilidade. Mais produtividade, menos feriado. Mais investimento, menos tributo. Mais coragem para cortar, menos covardia para agradar. Se não começarmos por aí, vamos continuar a viver de esmola estatal, enquanto o bolo econômico some da mesa — e a conta explode no colo de todos.

 

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