Em seu comentário, o escritor Palmarí da Lucena destaca como as tarifas do governo Trump contra o Brasil escondem uma disputa maior: a pressão para favorecer as Big Techs americanas e enfraquecer a regulação digital brasileira. “Usando o caso Bolsonaro como distração, Washington busca limitar a soberania nacional, ameaçando a democracia e a pluralidade. Defender a transparência e autonomia regulatória é fundamental para garantir justiça e direitos no ambiente digital”, diz Palmarí. Confira íntegra...
Nos últimos anos, a relação entre Estados Unidos e Brasil tem sido marcada por tensões comerciais que vão muito além da simples disputa tarifária. Embora as medidas punitivas aplicadas pelo governo Trump tenham sido oficialmente justificadas como respostas a questões políticas — notadamente o caso do ex-presidente Jair Bolsonaro — o que se revela, na prática, é uma estratégia para garantir a preponderância das gigantes da tecnologia americana no mercado brasileiro.
O caso Bolsonaro tem sido usado como um verdadeiro boi de piranha, ou mesmo uma folha de barreira, para desviar a atenção da opinião pública e da imprensa do objetivo real da pressão tarifária: abrir caminho para as Big Techs expandirem sua influência e evitarem regulações que poderiam restringir seu poder no Brasil.
Enquanto o governo americano insiste em associar as tarifas a supostas interferências brasileiras na esfera judicial e eleitoral, é notório que as verdadeiras negociações ocorrem nos bastidores, com reuniões entre representantes das empresas de tecnologia e autoridades brasileiras, visando flexibilizar regras e ampliar o espaço dessas corporações no país.
Essa tática não é nova: utilizar uma questão política de alto impacto para camuflar interesses econômicos e corporativos mais profundos é prática comum nas relações internacionais. No caso brasileiro, a pressão tarifária de 50% sobre produtos essenciais visa sobretudo estimular concessões no campo da regulação digital, onde as Big Techs enfrentam resistência por conta das rigorosas leis brasileiras contra desinformação e discurso de ódio.
O Brasil, com sua vasta população conectada e um mercado digital em crescimento, tornou-se alvo prioritário para essas empresas. A interferência americana visa enfraquecer a capacidade regulatória do país, colocando em risco a soberania nacional e a proteção da democracia, ao favorecer interesses privados estrangeiros em detrimento do interesse público.
É fundamental que o Brasil enxergue além do palco político e resista às tentativas de usar casos como o de Bolsonaro para justificar pressões comerciais que ameaçam sua autonomia. Defender a regulação transparente e eficaz das plataformas digitais é proteger a democracia, a pluralidade de vozes e os direitos dos cidadãos brasileiros.
No fim das contas, a disputa não é apenas comercial, mas política e cultural: quem governa o ambiente digital — o Estado soberano ou as corporações transnacionais — determinará o rumo da democracia no século XXI.
A defesa da soberania nacional é inegociável, e o Brasil deve reafirmar com firmeza seu direito de regular as atividades das Big Techs em seu território, garantindo transparência, responsabilidade e respeito às leis nacionais. Essas corporações não podem operar como entidades acima do Estado, impunes diante das consequências sociais, políticas e econômicas de suas plataformas.
Exigir transparência e responsabilidade das empresas de tecnologia não é apenas uma questão regulatória, mas um imperativo democrático para proteger a liberdade de expressão, a diversidade cultural e os direitos dos cidadãos brasileiros. Qualquer tentativa de pressão externa que vise enfraquecer essa autonomia deve ser enfrentada com determinação, para que o Brasil preserve seu espaço de decisão soberana e assegure que o progresso tecnológico caminhe lado a lado com justiça social e responsabilidade pública.
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