PENSAMENTO PLURAL O Governo-Espetáculo: política de cenografia, por Emir Candeia

Em seu comentário, o professor Emir Candeia faz uma crítica ao que considera uma “política de cenografia” do Governo Lula, diante da recente crise resultante do tarifaço do presidente Trump. “Brigas com países, discursos inflamados contra inimigos imaginários e gestos diplomáticos vazios são vendidos como defesa da pátria. Mas, que na prática, não trazem benefício algum ao Brasil”, aponta. Confira íntegra…

No Brasil , a política deixou de ser sinônimo de projeto e passou a ser espetáculo. O governo se tornou palco, os políticos atores, e a população, plateia. Já não se governa pelo planejamento, mas pelo enredo. O que vale não é o que se faz, mas o que se representa.

A lógica é : não é preciso agir, basta parecer esta agindo. Não é necessário apresentar soluções, basta convencer que elas existem. A autoridade mede-se pela exposição. Quem aparece, governa. Quem viraliza, vence. Quem emociona, comanda.

Nesse cenário, até o protesto perde sua força, transformado em meme e absorvido pelo entretenimento digital. O espetáculo neutraliza tudo, inclusive a crítica. O povo sofre com a crise cotidiana, mas segue entretido com a dramaturgia política.

Um dos recursos mais usados nesse teatro é a criação de conflitos externos. Brigas com países, discursos inflamados contra inimigos imaginários e gestos diplomáticos vazios são vendidos como defesa da pátria. Mas, que na prática, não trazem benefício algum ao Brasil. Servem apenas para desviar a atenção, ocupar o noticiário e sensibilizar parte da população.

Ninguém votou para que governantes transformassem a diplomacia em palanque. Ninguém entregou o mandato para aventuras pessoais de confronto. No entanto, essas encenações funcionam. Alimentam narrativas que confundem opinião pública e permitem que governantes sem projeto real se perpetuem no poder.

Enquanto se projeta a discórdia, o país segue sem rumo. Sem propostas de desenvolvimento, a nação é guiada por slogans e imagens de impacto. Sem políticas concretas, o futuro é substituído por espetáculo.

Quando a política se reduz a marketing, a democracia se transforma em entretenimento. O cidadão perde seu papel de sujeito e vira espectador. Uma plateia que se emociona, aplaude ou vai embora indignada — mas que não decide o rumo do país.

O governo-espetáculo é eficiente em distrair, mas ineficaz em construir. E enquanto o povo se ocupa com a dramaturgia, o país paga o preço da falta de projeto.

 

Os textos publicados nesta seção “Pensamento Plural” são de responsabilidade de seus autores e não refletem, necessariamente, a opinião do Blog.