2666 razões pra ler Bolaño
Conheci Roberto Bolaño por acaso. Eu lia algo sobre insuficiência hepática, quando me deparei com sua história. Chileno, Bolaño foi morar criança ainda no México, influência marcante em sua obra. Só retornou ao Chile quando o socialista Salvador Allende chegou ao poder. E um ano depois, saiu foragido, após o golpe militar do ditador Pinochet.
De volta ao México, migrou pouco depois para Barcelona, onde começou a forjar sua obra. Após anos de trabalho pesado, inclusive como lavador de pratos, deixou a poesia e ingressou na prosa, até se consagrar com o romance Os Detetives Selvagens. Então, ocorre o inesperado: Bolaños descobre a doença que o condena à morte. E decide apressar 2666.
A pretensão seria dividir a obra em cinco livros, para que a vendagem multiplicada por cinco volumes pudesse ajudar financeiramente sua mulher e filhos. Mas, termina falecendo antes de sua conclusão. Sua família resolve, então, publicar o inacabado 2666 num único livro, volumoso e intenso, consagrando como uma das maiores obras da literatura contemporânea.
Na verdade, arrisco a considerar 2666 a última grande obra latino-americana. Trata-se de um épico certamente, mas sem heróis, que tem como tecido mais íntimo a vida do misterioso escritor Archimbold, percorrendo desde a II Guerra Mundial até os assassinatos de mulheres na fronteira do México os Estados Unidos. Há quem o compare a James Joyce. Seria perverso.
De minha parte, considero Bolanõs a maior expressão da literatura dessas latitudes, desde Garcia Marquez a Vargas Llosa. Numa linguagem crua, cortante, às vezes até Kerouac, 2666 é genial. Obrigatório e ponto final.