Em seu comentário, o professor Emir Candeia, ora em viagem à China, afirma que aquele País não chega a ser um “parceiro estratégico” para os chineses, mas apenas “um fornecedor distante”. E diz que apenas em algumas cidades, há citações sobre o Brasil. Confira íntegra...
O Brasil na visão da China: um fornecedor distante, não um parceiro estratégico. Para o cidadão chinês comum, o Brasil é apenas o país de Neymar. Fora dos grandes centros, é praticamente desconhecido. Economicamente útil, culturalmente irrelevante.
Nas cidades chinesas fora de Pequim, Xangai e Shenzhen, há um silêncio geográfico sobre o Brasil. Taxistas, lojistas, farmacêuticos ou médicos raramente sabem o que é o nosso país. Quando sabem, mencionam um nome: Neymar. Essa é a realidade de uma nação com mais de 1,4 bilhão de habitantes que olha para dentro, para o próprio desenvolvimento, e para fora apenas quando o assunto é poder global ou tecnologia.
A mídia chinesa é essencialmente voltada a temas internos e às grandes potências com as quais a China disputa protagonismo: Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul, Alemanha e Rússia. O Brasil, nesse contexto, simplesmente não aparece.
Importância econômica sem prestígio simbólico. A relação sino-brasileira é essencialmente comercial e pragmática. O Brasil exporta soja, minério de ferro, carne e petróleo; a China devolve produtos de alto valor agregado — eletrônicos, equipamentos e tecnologia.
A China vê o Brasil como um fornecedor confiável, mas facilmente substituível. Na prática, o país ocupa um lugar funcional: abastece a máquina industrial chinesa, mas não desperta interesse estratégico ou admiração cultural. O engano do nacionalismo tropical. Há no Brasil uma crença recorrente de que “a China precisa de nós”. É um mito confortável, mas falso.
Na balança de dependência, é o Brasil quem precisa da China — como principal comprador de suas commodities e um dos maiores fornecedores de produtos industrializados. A China poderia substituir o Brasil por Indonésia, Austrália ou nações africanas.
Já o Brasil, sem a China, teria um colapso imediato nas exportações agrícolas e minerais. Essa assimetria mostra que, enquanto alguns brasileiros se orgulham de uma importância ilusória, a China apenas age com racionalidade econômica: compra onde é barato, vende onde há lucro.
A analogia do vizinho das frutas. A relação pode ser explicada de forma simples: O Brasil é como o vizinho que vende frutas boas e baratas. A China compra porque é conveniente, mas não se importa com quem ele é — contanto que as frutas cheguem frescas.
Um país simpático, mas irrelevante. Até que o Brasil se torne produtor de tecnologia, cultura global e conhecimento, continuará sendo o país das boas frutas e de Neymar. A simpatia permanece, mas o prestígio não existe. No mapa mental do cidadão chinês, o Brasil ainda é um território nebuloso — distante, exótico e dispensável.
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