
O escritor Palmarí de Lucena afirma, em seu texto, que Congresso trocou o papel de construtor institucional pelo de incendiário político. Ao aprovar “pautas-bomba”, hostilizar o Judiciário e constranger o Executivo, impõe instabilidade fiscal, encarece o crédito e afugenta investimentos. A liderança das Casas, frequentemente guiada por birras e revanchas, agrava o quadro. “Resultado: judicialização, descrédito e custo econômico difuso. A irresponsabilidade não é retórica — é conta concreta cobrada em juros, desemprego e confiança perdida”, acrescenta. Confira íntegra...
O Congresso Nacional transformou o confronto institucional em método de atuação. Incapaz de produzir consensos e soluções estruturantes, parte expressiva do Parlamento optou por uma estratégia de desgaste permanente: aprovar “pautas-bomba”, provocar o Judiciário e constranger o Executivo — mesmo quando isso compromete a economia e o equilíbrio fiscal do país.
Esse processo é agravado pelo comportamento dos próprios presidentes das Casas legislativas, que frequentemente agem menos como chefes de Poder e mais como líderes de recreio contrariados. Quando contrariados, “ficam de mal”. Quando não são atendidos, retaliam. Quando alguém impõe limites à sua autoimportância, respondem com birra política. A condução institucional passa a obedecer à lógica das rusgas pessoais, não ao interesse nacional.
Medidas com alto impacto orçamentário são votadas sem indicação de fonte de custeio, sem análise técnica consistente e sem avaliação de consequências. O resultado aparece rapidamente: deterioração fiscal, aumento de incertezas, pressão sobre juros e retração do investimento. O país paga pela infantilização da política com crescimento menor, crédito mais caro e perda de confiança internacional.
A política econômica vira instrumento de chantagem. O Orçamento passa a ser arma. A Constituição, moeda de negociação.
Esse comportamento não decorre de divergência programática legítima, mas de cálculo pessoal travestido de estratégia institucional. Em muitos casos, o objetivo não é governar melhor, mas desestabilizar quem governa. A política vira retaliação sistemática.
E a conta não é pessoal. É coletiva.
Exportadores enfrentam insegurança, estados perdem previsibilidade, empresas veem o crédito encolher e trabalhadores sentem os efeitos da desaceleração antes nos salários do que nas estatísticas. O custo da imaturidade institucional não aparece no plenário — aparece na vida real.
No campo institucional, o efeito é igualmente grave. Leis aprovadas de forma açodada e juridicamente frágeis aceleram a judicialização. O Supremo Tribunal Federal é chamado a restaurar limites violados e, ao fazê-lo, vira alvo de ataques. O Congresso legisla mal e depois acusa o Judiciário de excesso. Cria-se um ciclo perverso: imprudência legislativa, correção judicial, ataque institucional e nova crise política.
Parte dos parlamentares que alimenta esse ambiente revela outra fragilidade: ausência de produção relevante. Sem propostas estruturantes, substituem trabalho por conflito, técnica por discurso inflado, política por encenação.
Em democracias maduras, os presidentes do Legislativo organizam o debate. Aqui, frequentemente organizam o tumulto.
O país assiste a um Parlamento mais preocupado em exibir força do que em demonstrar responsabilidade, mais dedicado à revanche do que à construção. Não há economia que resista a um Congresso em guerra com a própria estabilidade institucional.
O Congresso não pode governar por birra nem legislar por revanche. Quando a liderança política cede à vaidade, o país paga em instabilidade, desemprego e desconfiança. A irresponsabilidade fiscal e o ataque às instituições não são bravatas inofensivas — são custos econômicos concretos. Um Parlamento que troca maturidade por espetáculo não enfraquece governos: fragiliza a República.
E toda fragilidade institucional tem preço. O do Brasil já começou a ser cobrado.
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