
Em seu comentário o advogado Ronaldo Cunha Lima Filho trata da mais recente polêmica na praça, desencadeada após a veivulação de uma prograganda das sandálias Havaianas, com a atriz Fernanda Torres. Setores da direita criticaram o que consideram uso indevido de uma marca popular para fazer política. O pessoal da esquerda, obviamente, rejeitou. Para Ronaldinho, ter transformado “isso em guerra ideológica é o verdadeiro tropeço”. Confira íntegra...
“Nada do que é humano me surpreende”, escreveu Terêncio no século II a.C. A frase envelheceu bem. O que não envelheceu foi a nossa capacidade de produzir escândalos a partir do nada.
A mais recente batalha cultural nasceu de um comercial das Havaianas. Fernanda Torres, atriz premiada e reconhecida internacionalmente, ousou dizer que não queria que o brasileiro começasse 2026 “com o pé direito”. Pronto. Para alguns iluminados, estava declarada uma agressão à direita ideológica.
Eduardo Bolsonaro, agora sem mandato, insurgiu-se contra a propaganda. Nas redes, os radicais de sempre fizeram o que sabem fazer melhor. Gritar, xingar e enxergar conspirações onde só existe língua portuguesa.
Convém lembrar aos desatentos que “entrar com o pé direito” é uma metáfora antiga, banal e absolutamente apolítica. Significa começar bem, dar sorte, nada além disso. Quem vê militância numa expressão popular revela mais sobre sua própria obsessão do que sobre a intenção de quem fala.
Chegou-se até a sugerir boicote à marca. Como se uma empresa global resolvesse, por livre e espontânea insanidade, hostilizar quase metade de seus consumidores. Seria menos marketing e mais suicídio empresarial.
Ser de direita ou de esquerda não define caráter. Radicalismo, sim. Esses não pensam, não interpretam e não distinguem metáfora de provocação. Vivem permanentemente à procura de inimigos.
No fim, resta o óbvio. Desejar que alguém comece o ano com o pé direito é apenas desejar sorte. Transformar isso em guerra ideológica é o verdadeiro tropeço. E, convenhamos, foi com os dois pés.
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