Depois de poeta, cartunista também ironiza adesão de secretário e governador ao forró de plástico
Há poucos dias, o Blog trouxe um artigo do poeta Ed Porto, ironizando a repentina mudança de gosto do governador Ricardo Coutinho e do secretário Chico César (Cultura), com relação ao chamado forró de plástico. Porto lembrava que, há dois anos, a dupla era visceralmente contra. César, inclusive, avisava que o Estado não aplicaria um centavo em eventos com bandas do gênero.
Mas, a um ano e pouco das eleições do próximo ano, tanto o governador, quanto o secretário mudaram de opinião: “vem agora o anarriê junino e o governo do Estado apoia os festejos de Antônio, João e Pedro em mais de 20 prefeituras paraibanas em cuja programação musical temos o melhor do pior forró de plástico. Dentre elas, pasmem, a de Campina Grande.” Mais em http://bit.ly/15qqjBA.
Inspirado na polêmica, o artista de rua Régis montou bela charge que se encontra na Internet. Eis o que publicou o poeta: “O arraiá de plástico de Chico”: “Dois anos atrás o alavantú do “secretário” de cultura da Paraíba, Chico César, era que “o estado não vai pagar estilos que não tenham a ver com a herança direta de Jackson do Pandeiro, Sivuca ou Luiz Gonzaga”.
Sem ter muito o que mostrar até então, o “secretário” resolveu ocupar a mídia com essa polêmica que se arrastou por um bom tempo. E como o tempo, dizem, é o senhor da razão, vem agora o anarriê junino e o governo do Estado apoia os festejos de Antônio, João e Pedro em mais de 20 prefeituras paraibanas em cuja programação musical temos o melhor do pior forró de plástico.
Dentre elas, pasmem, a de Campina Grande. Lembrem que até o ano passado, a prefeitura de Campina Grande era do PMDB, mas agora o prefeito campinense é do PSDB apoiado pelo PSB do governador. Aviões do Forró, Forró dos Play, Forró da Curtição, Forró Zueira, Forró da Pegação, Saia Justa, Forró da Resenha, Gatinha Manhosa, Forró da Elite, Furacões do Forró, Garota Safada e outras pérolas do estilo intitulado forró de plástico serão apoiadas (ou “pagas” né Chico?) pelo Estado.
É isso aí minha cumade e meu cumpade! E com direito a lançamento oficial na PBTur. Onde está todo aquele discurso pomposo, porém vazio do “secretário”? Disse ele à época: “É um investimento num plantio de nossa cultura porque essa cultura tem sido desprezada, escamoteada, tratada com indiferença e o estado tem que chamar a atenção…”. Lindo esse papo-cabeça! Disse mais: “Nós queremos lutar por um espaço da arte nordestina, paraibana, nessa festa que é a mais bonita que o povo da Paraíba mais gosta que é a festa de São João”. Muito bom. E foi além ao defender sua afinação com o coroné Ricardo: “Tudo passa pelo filtro dele, mas eu me sinto muito afinado com o governador e com os grupos que o levaram ao poder”. Ora pois pois.
Quem desafinou agora: o “secretário”, o governador ou os “grupos que o levaram ao poder”? Tenho a leve impressão de que o “secretário” de cultura não apita em nada e desafina desde que assumiu esta secretaria Quem rege a banda é o coroné Coutinho e os partidos (ou “grupos” né Chico?) que o apoiam. E não importa se o forró é de plástico, de alumínio ou de maderia-de-lei. O que vale é que em 2014 tem eleição e o palco tem que oferecer um cardápio popular senão a reeleição dança.
Tempos idos aquele em que havia algo chamado honra. E onde o caráter e a personalidade eram algo a ser preservado. Fossem aqueles os tempos, o “secretário” pediria pra sair desse arraiá. Afinal, seu discurso e sua opinão sobre a cultura foram fortemente detonados. Ou o tempo o mudou de tal forma que agora até ele é de plástico”.
Ed Porto nasceu em Campina Grande, mas reside em João Pessoa, e trabalha como professor na UFPB. Foi o primeiro colocado no concurso literário da Associação Paraibana de Imprensa em 2000 (categoria poesia). Lançou os livros de poesia intitulados Anônimo (2004), Ária Literária (2006), Tra(i)nspiração e outras coisas (2008) e Mosaico(2009). Lançará Quintessência (2012). Publicou no Parede Poética do SESC em 2011.