O dia em que os paraibanos voltaram às ruas
A verdade é que as pessoas foram para as ruas e não há como tira-las de lá, sem que haja mudanças efetivas no cenário do País. Nem os próprios organizadores sabem como parar a locomotiva que pôs a se mover e está levando em seus vagões levas de pessoas indignadas com tanta incompetência, num País de tantas riquezas, onde apenas alguns poucos estão no banquete.
Não é mais uma manifestação contra algo específico. É contra tudo que agride a integridade do cidadão, e é contra todos que possam ter contribuído para levar o País à situação em que se encontra. Há uma revolta difusa e generalizada contra os políticos, de quaisquer partidos, pois eles representam o que mais afronta a dignidade do cidadão: os escândalos e a corrupção desenfreada.
O movimento também não tem lideranças claramente definidas como foi, por exemplo, no tempo dos caraspintadas. Naquele momento do impeachment de Collor de Melo havia com quem setores do poder público pudessem dialogar. Agora, não há. O que há, na verdade, é uma colossal massa humana que se pôs em marcha e se move pela força de suas entranhas, não pela cabeça.
Na Paraíba, por exemplo, as reivindicações se diversificaram. Houve queixas generalizadas, mas algumas foram importantes, como o fim da PEC 37, essa odiosa ofensiva para tirar o poder de investigação do Ministério Público. Contra a violência, que vem tornando as pessoas reféns dos bandidos, enquanto a única ação efetiva do Governo é divulgar estatísticas falsas.
Em vários cartazes, era possível identificar cobranças por uma educação de qualidade, um sistema de saúde decente, contra desmatamentos. Mas, sem dúvida, em sua maioria, o sentimento é contra a corrupção, esse dragão que leva para o bolso dos salafrários o dinheiro público, que deveria ser aplicado em favor da sociedade. Essa a sensação mais dolorosa e, ao mesmo tempo, revoltante.
O povo está revoltado. Os protestos sacudiram o País e, agora, a Paraíba. É um recado simples: a gente não aguenta mais. Ponto. O único senão nessas manifestações tem sido a ação de marginas infiltrados que se aproveitam de um movimento legítimo para externarem seus instintos mais primitivos, muitos deles até financiados, quem sabe, por certos líderes incomodados com as manifestações.
A verdade é que o brasileiro, o paraibano está nas ruas. E dificilmente ele sairá de lá, se não houver mudanças profundas na prática política e se não vier uma resposta concreta a tanta indignação, energia maior que moveu essa imensa locomotiva pelas ruas do País. E os senhores do poder, alvo principal dos manifestantes, cuidem de acordar também. Antes que seja tarde demais.
E esperamos por fim que, em 2014, essa imensa massa de pessoas indignadas possa dar uma resposta, onde mais dói para os políticos: nas urnas. De nada terá adiantado despertar o gigante, se ele não for capaz de fazer melhores escolhas nas eleições do próximo ano.