A cidade vista do alto, confira com Palmarí de Lucena
O escritor Palmarí de Lucena tem se dedicado, nos últimos tempos, a fazer um registro fotográfico de João Pessoa, especialmente o Centro Histórico e a orla, com o auxilio de drones. A ideia é construir um inventário da cidade para, não apenas revelar as fragilidades de ações do poder público, mas também mostrar à população as imagens reais de sua cidade. Reflexões sobre o que tem ele tem captado do alto estão em sua mais recente crônica “A cidade vista de cima”:
Seguindo uma nova tendência mundial, decidimos viajar pelo céu da cidade. Vista de cima a procura de marcos obliteradas ao longo dos anos, pela expansão urbana e degradação das áreas onde florescera a terceira cidade mais antiga do Brasil. Bela cidade, lugares que conhecemos como criança, vivemos sonhos de adolescente e começamos a vida como adultos. Universo desnivelado, ladeiras e contornos nos levando a lugares aprazíveis, edificações sóbrias e a uma sempre presente imagem dos meandros do Rio Sanhauá. Faltou criar canções ou ter inspiração. Amamos, amamos muito no picadeiro de romances ao céu aberto das nossas praças e logradouros.
Verde enfadonho do manguezal perdido na imensidão cinzenta brincando de esconde-esconde, ora aparecendo majestoso e inconquistável, ora fragilizado pelas ocupações humanas e a poluição ao longo de suas margens. Rio Sanhauá do Cacique Piragibe, uma colina na sua margem direita abrigara o berço da cidade, muitas histórias de lutas inglórias entre colonizadores pelo domínio das fortificações e construções crescendo ladeira a cima. A visão emocionante da beleza de Frederistadt capturada por Frans Post em 1639 e os restos do casco histórico é tudo que nos resta. Procuramos de cima algo que nos remetesse ao passado, nosso passado. Vistas aleatórias, sem as conexões que as criaram ou que nutriram nosso amor pela terra natal. Pequenas evidências erodidas pelo tempo, descaso e deslealdade com a nossa história.
Voamos sorrateiramente pelo céu cinzento, do alto a visão privilegiada da assimetria diversificada que sobrevivera as enxurradas de modernidade descendo para a orla marítima. Escombros e distorções urbanísticas escondiam o passado, talvez o mar fosse mais generoso com a nova história da cidade. Os campanários das igrejas nos remetiam a dias de festas, ocasiões solenes do calendário religioso. Resquícios de tentativas incompletas de restauração, evidenciavam a incapacidade do poder público de preservar nosso patrimônio histórico. Voamos para bem alto do céu, bem longe do chão.