A falta de confiança nas fontes da verdade, confira com Palmarí de Lucena
Em sua mais recente crônica, o escritor Palmarí de Lucena aborda a perda de credibilidade, em que a principal vítima é a verdade. “Vivenciamos assim uma cultura política de pouca curiosidade intelectual e alarmante dependência nas informações produzidas por especialistas, marqueteiros ou redes sociais”, advoga o escritor, em seu comentário “Só a verdade vos libertará”. Confira a integra do seu comentário:
Evidentemente não estamos experimentando uma carência global da fé ou de algo poderoso como a verdade. O que temos é falta de confiança nas fontes da verdade. Dependemos de outros para transmitir-nos a maioria das coisas que aceitamos como verdade, embora raramente possamos verificar a veracidade daquilo que recebemos. Dificultando a verificação, o fato de que a maioria das fontes da verdade são diversas, muitas vezes difíceis de entender: mídia, política ou mesmo a ciência. Temos por exemplo, uma relação bipolar com a ciência, ora acreditamos na exatidão de algo cientifico, ora expressamos ceticismo sobre as conclusões de estudos como o que estabeleceu que o açúcar é o novo vilão da saúde. Acreditamos que muitas pesquisas utilizam amostras que são pequenas demais, para alcançar conclusões generalizáveis.
A verdade é a maior vítima das escaramuças e debates municiados pelo desejo e afã de pessoas em demonstrar conhecimento imediato, mesmo que seja superficial, para justificar posições políticas ou reforçar um viés cultural. Vivenciamos assim uma cultura política de pouca curiosidade intelectual e alarmante dependência nas informações produzidas por especialistas, marqueteiros ou redes sociais. Uma atitude indiferente que motiva as pessoas a aceitar e compartilhar falsidades como sendo verdadeiras, transformando assim a Era da Informação em Era da Desinformação.
O aspecto tóxico da política, é que ninguém acredita mais em alguém que seja visto como um membro da elite política. Perguntamos então, se são descrentes de todos políticos por qual critério escolhem um candidato? Não ser um membro da elite política é algo positivo, porque sugere que a pessoa não tem tendência à mentira ocupacional. A outra vantagem é a capacidade do candidato de transmitir mensagens que ressoam com o que o eleitor quer ouvir. Estando presentes estas duas qualidades, não importa para muitos se o candidato fabrica histórias ou mente sobre outras. Assume-se, portanto, que todos políticos mentem, mas que pelo menos o nosso não é o mentiroso deles.