A morte do ministro deixa muitas indagações e reflexões no País da Lava Jato
Num País onde as instituições prezam mais pela imagem, uma morte como essa do ministro Teori Zavascki certamente não teria ocorrido. Não nas circunstâncias como ocorreu. Não se vê, por exemplo, ministros do Supremo da Alemanha ou Estados Unidos viajando de carona em aviões de amigos empresários. E essas são reflexões que precisam ser feitas.
Talvez nem seja conveniente lembrar, mas o fato é que o empresário Carlos Alberto Filgueiras, dono do avião, era também proprietário do Hotel Emiliano. Em delação à Justiça Federal, Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC, disse ter se reunido com Renan Calheiros no hotel, onde o presidente do Senado estava hospedado, para negociar doação à campanha do filho dele ao governo de Alagoas.
Por isso também não deixa de ser pra lá de estranha essa morte de Zavascki, justo ele o relator dos processos da Operação Lava Jato. Justo ele que estava diligenciando os processos das delações premiadas mais esperadas da temporada, envolvendo a Odebrecht, de longe a empreiteira mais envolvida nos escândalos de corrupção do Brasil contemporâneo.
Se foi simples acidente ou atentado, cabe às autoridades uma investigação profunda. Se bem que, em se tratando de Brasil, criar esperanças sempre leva a decepções. Só pra lembrar um caso mais recente, que foi a morte do ex-governador Eduardo Campos. As investigações se arrastaram convenientemente por mais de um ano e, ainda hoje, persistem dúvidas.
De qualquer forma, nesse caso de Zavascki é impossível não se suspeitar de sabotagem. Imagine quanto tempo irão atrasar os trabalhos do Supremo em relação à Lava Jato, até que outro ministro assuma a relatoria, se assenhore dos processos, para, enfim, chegar ao ponto que estava Zavascki quanto morreu. Seja lá o que tenha ocorrido ao ministro, tem-se a impressão de que Deus não é mesmo brasileiro.