A Paraíba que dá certo: projeto ganha prêmio nacional
O texto foi enviado pelo professor e ex-secretário Ademir Alves de Melo. Dá conta de que um projeto pioneiro desenvolvido em Bonito de Santa Fé foi destacado entre os dez mais importantes do País na área de reciclagem de resíduos. O prêmio foi conferido pela Secretaria Nacional da Presidência da República, em parceria com o Banco Mundial.
No ultimo dia 19 de dezembro, a própria presidenta Dilma entregou o “Premio Cidade Pro Catador”, à prefeita Alderi Caju (Bonito de Santa Fé) e à catadora Rita Miguel, durante o encontro com os catadores e moradores de rua, em São Paulo. Segundo Tarcisio Valerio (UFPB/PRAC), coordenador do projeto, foi usada uma “metodologia participativa” para implantação da coleta seletiva.
Lembra o professor Ademir: “O projeto foi coordenado pelo economista Tarcísio Valério da Costa, assessor-técnico da Pró-reitora de Extensão da UFPB, em parceria com a Prefeitura de Bonito de Santa Fé. Foram dois anos de intensos trabalhos de organização e conscientização dos catadores de lixo reciclável naquele município sertanejo.”
Na íntegra: “No refluxo de vagas de notícias que entristecem, como a partida do Rei do Brega, despedida essa que estiola corações; o aumento nas tarifas de água tratada distribuída pela Cagepa, que instiga a indignação de bolsos feridos; o escárnio a que se submete o governo do Estado com a enfiada do rosário da LOA, num concerto desafinado de loas executadas em louvor à incompetência no trato com o orçamento público. Tudo isso em uma só tirada acontecendo na mesma semana, destoa com uma notícia perdida no mundo das coisas boas a levantar o moral dos que ainda acreditam que a Paraíba dá certo: o Projeto de Reciclagem de Bonito de Santa Fé.
A notícia chegou por vias transversas, como envergonhada de se mostrar. A Secretaria Geral da Presidência da República em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, Fundação Banco do Brasil, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, criou o Prêmio Cidade Pró-Catado e organizou o certame, visando estimular a organização de milhares de trabalhadores do lixo espalhados por todo o país, se é que assim se pode chamar à falta de um termo mais apropriado para definir e contextualizar as atividades dessas pessoas. Foi assim que a Paraíba concorreu ao evento, sendo classificada em quarto lugar no pódio dos classificados.
O projeto foi coordenado pelo economista Tarcísio Valério da Costa, assessor-técnico da Pró-reitora de Extensão da UFPB, em parceria com a Prefeitura de Bonito de Santa Fé. Foram dois anos de intensos trabalhos de organização e conscientização dos catadores de lixo reciclável naquele município sertanejo, localizado nos confins da fronteira com o estado do Ceará, lembrado alhures como o torrão natal da cantora e atriz Tânia Alves e berço da oligarquia esfumada dos Cavalcanti de Arruda. Conta a história que os cangaceiros também fizeram bonito naquelas paragens de Bonito.
Mais de sessenta projetos concorreram a esse ambicioso prêmio, menos por sua expressão tininte que é simbólica, senão pela dimensão social da sinergia provocada, visando à capacitação para o trabalho associado e para os desafios da vida de um dos segmentos de trabalhadores anônimos mais penados nos espaços urbanos, que sobrevive de resíduos domésticos, comerciais e industriais, muitas vezes em convívio e disputa acirrada com aves de rapina e roedores atrevidos, cada qual no seu mister.
Trabalho árduo e sujo, sujeito a contaminação de veículos portadores de doenças múltiplas que emanam do meio em que labutam esses seres humanos situados na escala mais inferior da estratificação social. Mas não menos nobre, por seus fins. É a expressão mais genuína das entranhas do capital.
Certamente a mídia vai ignorar essa premiação, até para não enfastiar as apuradas sensibilidades estéticas de leitores afeitos à fantasia das novelas globais que povoam a imaginação da gente nossa acostumada a sonhar com os encantos da riqueza vivendo na penúria da pobreza. Nesse arrebatamento cotidiano induzido espelha a sua imagem na opulência do próximo e a projeta em transportes de deleites. É a essência da existência de um sistema povoado de injustiças.
A mídia vai calar e os poucos que tomarem conhecimento desta premiação terão escrúpulos de comentá-la. Incomoda. Enoja. Serão solidários com a voz surda e abafada das catacumbas.”