A posse de Fátima e a relação entre poderes
Há muitos simbolismos na posse da desembargadora Fátima Bezerra como presidente do Tribunal de Justiça. Um deles, obviamente, é fato de ser a primeira mulher a presidir a Corte, e por méritos próprios. Mas, não se pode descartar, em se tratando de Paraíba, o ingrediente político que sempre permeia o debate no Estado desde 1930.
A começar por sua posse. O governador Ricardo Coutinho, por exemplo, esnobou da posse de Ricardo Marcelo na presidente da Assembleia, pela manhã, mas foi ao Tribunal de Justiça marcar presença na noite de sexta-feira. Claro que a praça entendeu o recado. RC tem problemas com o Legislativo, mas não quer embaraços com o Judiciário.
RC provavelmente levou em conta o detalhe de Fátima ser esposa do ex-governador Zé Maranhão, adversário que derrotou nas eleições de 2010. O mesmo Maranhão com quem deseja avançar num diálogo para 2014, dentro do seu projeto de vencer as eleições preferencialmente por WO, ou seja, sem adversários. Ou se fortalecer para o caso do senador Cássio mudar de ideia a respeito de sua reeleição.
Mas, pelo lado, digamos, mais técnico, o governador tem tido muita sorte no Judiciário. Isso não é nenhuma novidade. Tem vencido praticamente todas. A última delas, e por unanimidade, foi o desarquivamento do empréstimo da Cagepa. Então, é importante ao seu projeto de Governo manter uma relação absolutamente sem ruídos com o Judiciário.
Além do mais, a desembargadora Fátima tem características particulares, como a capacidade de articulação e a altivez, detalhe que pode provocar uma mudança talvez sutil nas relações entre o Judiciário e o Executivo. Sob seu comando, certamente haverá uma relação respeitosa, mas institucional. Porém, difícil imaginar submissão de um poder ao outro.
E a desembargadora demonstrou, com sua posse, o tamanho do seu prestígio, não apenas no Estado, mas junto a Brasília, pelas autoridades presentes.