A profecia do Coringa, confira com Palmarí de Lucena
“O Coringa reaparece em novos picadeiros”. É com essa observação que o escritor Palmarí de Lucena arremata sua mais recente crônica, abordando os atuais contrastes registrados em países da América Latina, especialmente Bolívia e Chile, nos quais o povo foi as ruas, em diferentes cenários ideológicos, mas com um ímpeto inesperado, que certamente deve ter assombrado parte das elites.
Confira a íntegra de seu comentário “A profecia do Coringa”:
“É isto que acontece quando forças incontroláveis colidem com um objeto imóvel […]”, declarou o Coringa nos minutos finais do filme Batman: o Cavalheiro das Trevas. O temido vilão transformando-se em uma espécie de profeta do caos sociopolítico, alastrando-se incontrolavelmente pelo mundo afora. Manifestações espontâneas contra a desigualdade, falta de representatividade, corrupção política ou efeitos nocivos de reformas econômicas draconianas, estão alimentando um improcedente nível de descontentamento popular e insegurança social, exacerbando a polarização de antagonismos ideológicos, causando profundas e perigosas fissuras no cerne das instituições do Estado Democrático Direito.
Em memória recente, o medo de muitos Brasileiros era a possibilidade de nos transformamos em outra Venezuela, ao mesmo tempo em que exaltávamos o Chile como uma alternativa por suas taxas invejáveis de crescimento, reformas econômicas e modelo de capitalização da previdência. Mudanças alcançados sem o estigma da corrupção sistemática tão familiar ao brasileiro. O mito chileno tomou forma humana recentemente, o povo saiu para as ruas protestando contra os baixos salários, pensões graúdas dos militares e a parca aposentadoria resultante da capitalização. E agora, que nem queremos ser a Venezuela do presente, nem aspirar a ser o Chile do futuro?
É um grande erro atribuir manifestações as conspirações de inimigos sinistros ou interesses maléficos, tão temidos por saudosistas da Guerra Fria. Derrubamos o Muro de Berlim, nos falta derrubar o muro mental das elites, que bloqueiam qualquer tentativa de tratar a sociedade civil como um parceiro democrático, essencial para a formação de um futuro possível. O povo não é o problema, as elites que nos governam o são. Ao reconhecer que a ira das ruas não tinha dono ideológico, Presidente Piñeda, optou pela reconciliação, reformas políticas e busca de soluções para o problema da desigualdade, transformando o Chile em algo que poderá ser espelhado por aqueles que aspiram um Brasil mais equitativo. Enquanto isso, o Coringa reaparece em novos picadeiros…