A TAIS PALAVRAS… Houve tempo em que ministra dizia “Cala boca já morreu” e o País celebrava “Censura, nunca mais”
Será que aquelas palavras proibidas pelo ministro Alexandre de Moraes também deverão sair dos dicionários, meu caro Paiakan? Será que poesias, novelas e romances de gente como Machado, Manuel Bandeira, Drummond também terão essas palavrinhas censuradas? Já que perguntar não ofende, fica a dúvida.
E imagino, meu caro Paiakan, como a censura é algo feito impingem. Só cresce. Começa pequeninha, cercando perfis em redes sociais. Não há reação, então chega em escala crescente aos blogs, sites, revistas e jornais e, agora, como bem se vê a uma grande empresa de comunicação, como é o caso da Jovem Pan.
Amanhã, difícil imaginar o tamanho desse monstro que cresce, a partir da covardia dos que deveriam defender a liberdade de expressão e silenciam. Alguns, mais cretinos, até elogiam. Mal sabe estes que, um dia, também baterá à sua porta. A censura, uma vez iniciada, sempre em crescente, se não houver reação.
Foi assim na ditadura militar, de péssima memória. Mas, de que valeu tanta luta pela democracia, para chegarmos a esse ponto? A volta da censura, sob o pretexto de defesa da democracia, o que talvez seja a maior trapaça verbal dos tempos modernos no País.
Hoje, estão censuradas aquelas cinco ou seus palavras elencadas pelo ministro supremo, amanhã entrarão no rol palavras tão caras aos brasileiros, como a democracia e a liberdade. E perceba, meu caro Paiakan, que o censor de hoje, era o mesmo que defendia liberdade de expressão até um dia desses.
Aliás, só para não dizer que não falei das flores, esse é o mesmo magistrado que, em vídeos que estão nas redes sociais, chegou a usar essas mesmíssimas palavras para se referir ao mesmíssimo personagem que, hoje, com suas tesouradas, aparentemente, protege. Tempos do riso e do esquecimento. Tempos sombrios esses…
Tempos tão sombrios que até um jornal, como o New York Times, traz reportagem estranhando a volta da censura no País, pelas mãos de ministros do Supremo Tribunal Federal. E pior: o tipo de censura é imposto sob o argumento de defesa da democracia. Pobre democracia brasileira, sendo usada como chacota…
Por fim, não dá pra esquecer um pungente pronunciamento da ministra Carmen Lúcia, há seis anos, quando, ao se referir à censura, despachou: “Cala a boca já morreu!” É de se indagar, então “cala boca” foi exumado? Pelo visto, sim. Mas, foi a mesma ministra que, agora, endossou estranhas decisões que sugerem a volta da censura.