A teologia política e a caça às bruxas, confira com Palmarí de Lucena
Em sua mais recente crônica, “Teologia política”, o escritor Palmarí de Lucena traz observações pertinentes sobre como alguns governantes, a exemplo de Donald Trump, passaram a “tratar a política como se fosse algo religioso, talvez até mesmo como uma religião”. Palmarí observa como esse comportamento chega às raias do ridículo, mas podem preceder a implantação de “políticas extremas”.
Confira a íntegra de seu comentário:
O sobretom teológico na narrativa política da atualidade, é um reflexo da crescente tendência de tratar a política como se fosse algo religioso, talvez até mesmo como uma religião, por uma minoria significante do eleitorado. Governantes autoritários seguem, à exemplo do mandatário americano, a usar metáforas igualmente absurdas, com a “caça às bruxas” do Presidente Trump, para acusar críticos de ser parte de uma grande e demoníaca conspiração contra os valores culturais que defendem.
No século XX, o marxismo engendrou uma teoria de salvação, que levou pessoas a matar ou morrer em busca de um ideal redentor. Transformando comunismo em algo tão atraente, ao mesmo tempo tão perigoso, camuflando a opressão com um folheado de idealismo. A direita posicionou-se nas décadas finais do século, contra a ideia da política como salvação, enfatizando reforma no lugar de redenção.
Recentemente, a direita populista americana assumiu um viés distintamente religioso, abraçando a visão de uma certa teoria do fim dos tempos. Demonizando políticos defendendo globalização, inclusão e diversidade como ameaças a civilização americana, se Donald Trump não fosse eleito presidente. Combinando alarmismo com nativismo nesta escatologia secularizada, o Anticristo, aparentemente fala com sotaque hispano ou pertence a um grupo minoritário étnico-religioso.
A narrativa histriônica de Trump e outros da mesma laia, precede a implantação de políticas extremas. Argumentando que a forma de fazer política tradicional está a borda de um desastre. Civilidade, persuasão e habilidades de governança parte de um modelo obsoleto, propondo a escolha de líderes abrasivos, preparados para enfrentar o fogo com lança-chamas. Cultivando a desesperação, transformando oponentes políticos em inimigos e compromisso em heresia.