Assembleia derrota a prepotência e abre precedente
Há de fato um grande salto na política da Paraíba. Não exatamente o salto prometido pelo ínclito, preclaro e insigne governador quando ainda em campanha. Mas, um salto (até para melhor) no comportamento dos deputados estaduais. Afinal, não é comum parlamentares votarem contra orientação do Executivo.
Isto só acontece em raras ocasiões. Como está ocorrendo hoje na Paraíba. E a explicação no caso presente é simples: a pressão popular. Em praticamente todos os segmentos da sociedade reina uma insatisfação contra o governador RC. E, mesmo após 16 meses de gestão, é crescente. O que é inusitado.
A regra é que, após um breve período em que o Governo toma todas as medidas impopulares, para ajustar o Estado à sua administração, se inicie um tempo de arrefecimento. Mas, o que se vê na Paraíba é um contencioso após outro. O Governo RC tem sido de permanente enfrentamento. Não há diálogo.
A maioria dos deputados até consegue, por algum tempo, administrar as insatisfações da população. Mas, só quando há perspectivas de mudanças no horizonte. Quando, por outro lado, o quadro clínico segue inalterado mês após mês, o deputado se pauta pela lei da sobrevivência. É o que está ocorrendo.
As derrotas que RC tem sofrido mostram, primeiro, que não se pode descumprir leis e se arvorar de ter poderes divinos. É preciso descer do pedestal e dialogar, como faz o comum dos mortais. Depois, precisa entender que a imposição imperial não funciona quando um Governo está sem apoio popular.
As últimas derrotas criam, por fim, um precedente perigoso. O Governo não tem, a partir de agora, mais qualquer segurança de que suas matérias serão aprovadas. Ou só terá, caso se disponha a negociar, sabe-se lá em que condições, a aprovação de cada matéria no varejo. Um custo-benefício talvez proibitivo.
Há, por fim, o risco da ingovernabilidade. E é um problema no atacado. Sem conseguir mais aprovar suas matérias, não terá como administrar. Foi o que ocorreu com o ex-governador Tarcísio Burity, em seu segundo mandato. O resultado foi o desfecho melancólico de uma gestão que prometia ser brilhante.
Resumo da ópera: pra um Governo que não tem acertado em quase nenhuma área da administração, vive se envolvendo num festival de escândalos e se alimenta do embate com a sociedade, só quem salva é a humildade para admitir os erros e entender que não se governa por decreto.
Mas, dá pra esperar humildade do nosso ínclito, preclaro e insigne governador, que só parece gostar de administrar com fúria?