“Candidatura de Cássio enfraquece Ricardo e beneficia Veneziano”, diz analista
O professor Jônatas Frazão tem se notabilizado pelos comentários sempre muito pertinentes sobre a cena política do Estado. O último deles, sob o título “Uma candidatura de Cássio fortalece Veneziano”, analisa de forma muito oportuna sobre o que poderá ocorrer caso o senador Cássio Cunha Lima seja candidato a governador.
Em sua opinião, a candidatura de Cássio, de um lado, “enfraquece a do governador Ricardo Coutinho”. De outro, ele acredita que o maior beneficiário do rompimento entre Ricardo e Cássio será o pré-candidato Veneziano, “pois, ao invés de apenas um candidato de governo ele irá concorrer com dois candidatos de governo”.
Confira o texto na íntegra: “Esta semana a política paraibana foi sacudida com declarações do Senador Cássio Cunha Lima (PSDB) que apontaram na direção de uma candidatura do tucano ao Governo do Estado nas eleições de 2014. Criticar um aliado, seu governo, suas práticas administrativas e deixar transparecer, nas entrelinhas, que algo de novo pode ocorrer no ano que vem foi mais que a pista que seus aliados esperavam para começar a fazer a festa.
De uma eventual candidatura de Cássio a governador podemos tirar várias conclusões. A primeira delas – e a mais óbvia, claro – é a de que Ricardo se enfraquece e compromete seu projeto de reeleição. Ricardo não diz abertamente, mas não acredito que no íntimo ele imagine que ganhou a eleição de 2010 por méritos próprios. Talvez ele não credite a Cássio o peso que Cássio teve, mas isso é outra história.
Se Ricardo perde com uma postulação de Cássio, quem ganha, então? E eu respondo: Veneziano. Ele é o maior beneficiado com este rompimento, pois, ao invés de penas um candidato de governo ele irá concorrer com dois candidatos de governo, o que dividirá os votos na base CCL-RC.
É lógico que Cássio, para chegar ao Palácio da Redenção, sabendo do desgaste por que passa o Governo de Ricardo Coutinho, vai entabular um discurso de oposição. E é lógico que Veneziano, sabendo o peso que este discurso tem, não vai querer entregá-lo assim, de bandeja, para Cássio. Mas, para dar base ao título deste comentário, tomemos o sentido tangível das coisas.
Cássio e Ricardo, juntos, tem uma boa fatia dos votos da Paraíba. Suficiente para levar Ricardo à reeleição? Não se sabe. Se em 2010 o discurso do novo serviu, em 2014 há diferenças, sobretudo pelo fato de boa parcela da população estar desapontada com o que Ricardo ‘vendeu’ e não ‘entregou’. Cássio e Ricardo separados dividem, também, os votos da base governista.
Cássio terá dificuldades em João Pessoa (onde, é bom que relembremos, sempre teve dificuldades em angariar votos e na última eleição para o Senado perdeu para Vitalzinho); sai bem de Campina Grande e vai para a divisão do bolo no restante do estado.
Ricardo terá dificuldades em João Pessoa, onde na eleição para prefeito conseguiu, apenas, um humilhante terceiro lugar para a sua candidata, Estelizabel Bezerra. Também terá dificuldades em Campina Grande, onde, no cenário das candidaturas de Cássio e Veneziano, estaria indo de encontro a duas candidaturas da terra.
Além do mais, em Campina Grande Ricardo, por ter Veneziano como desafeto, não trabalhou nos dois primeiros anos de seu governo. E agora, mesmo com Romero, um aliado (???), não tem conseguido tirar do papel aquilo que prometeu, gerando insatisfações de Zé Pinheiro às Malvinas.
Veneziano sai bem de João Pessoa, aproveitando o bom momento do irmão Vitalzinho, que foi o mais votado na cidade, na eleição de 2010 para o Senado, batendo o próprio Cássio; sai bem de Campina Grande, onde detém boa fatia dos votos, divididos com Cássio em uma eventual candidatura do tucano; e vai para a divisão, também, no restante do estado.
E aonde Ricardo divide os votos com Cássio? Aí vem o xis da questão: a Ricardo restaria apostar todas as suas fichas nas cidades pequenas, como fez Cássio, por exemplo, na disputa com José Maranhão, quando perdeu feio em João Pessoa, mas tirou a diferença em Campina e no interior do Estado. Ricardo não terá Campina, mas poderá ter outras cidades.
Outro fator a favor de Ricardo é a máquina estatal. Não se pode subestimar um candidato que está sentado na cadeira de governador, com a caneta na mão e uma ruma de empregos espalhados em todo o Estado. Só que estes que ocupam os cargos hoje não foram nem vão ser aliados de Veneziano. Ou são de Cássio ou do próprio Ricardo. Então, podemos dizer que a disputa pelos votos deste pessoal vai ficar restrita a Cássio e RC.
O resumo da ópera é: Cássio e Ricardo, disputando o governo, vão disputar os aliados em comum, enquanto que Veneziano já tem seus votos e, pelo menos em tese, quem vota no Cabeludo não vai deixar de votar porque Cássio rompeu com Ricardo.
É por este ângulo que vejo e entendo os resultados de enquetes realizadas por portais e emissoras de rádio em várias cidades paraibanas e que a assessoria de Veneziano tem feito questão de exaltar, mostrando Cássio e Veneziano praticamente empatados (mas sempre com Veneziano levando ligeira vantagem) e Ricardo lá no rabo da gata.
É que, como as enquetes mostram e como a realidade está sendo descortinada, Cássio e Ricardo juntos tem um peso; separados, tem outro totalmente diferente, para cada lado. Já o peso de Veneziano independe desta separação, mas acaba ficando maior que os dois em separado, na divisão do bolo da aliança CCL-RC.
Sem se falar que Ricardo, ausente em num eventual segundo turno ente Cássio e Veneziano, ficaria do lado do Cabeludo, como fez Cozete em 2004, chateada por se sentir traída por Cássio. É aguardar pra ver.”