CASO BRUNO ERNESTO Grupo Mães na Dor repudia decisão de juíza de arquivar denúncia contra Ricardo Coutinho: “Impediu que a justiça cumprisse seu papel”
O Grupo Mães na Dor, integrado pelas mulheres que, nos últimos anos, perderam seus filhos para a violência na Paraíba, emitiu nota, nesta sexta (dia 28), repudiando a decisão da Francilucy Rejane Sousa Mota (2º Tribunal do Júri), de mandar arquivar denúncia contra Ricardo Coutinho, investigado sob a suspeita de participação no crime. O grupo também se solidarizou com Inês, mãe de Bruno: “O amor ao filho transforma-se em uma falta impreenchível.” Confira a íntegra da nota…
Como podemos descrever a dor de perder um filho?
Ela é tão grande, tão dilacerante, tão indescritível que fica difícil fazer qualquer comparação.
Não importa a idade ou a forma, a cachoeira das lágrimas nunca mais secará.
Fomos trituradas vivas, mutiladas sem anestesia, no dia que assassinaram nossos filhos.
Dói, dói muito.
Lateja sem parar.
E quando derramamos sobre essa ferida aberta o ácido da revolta. A revolta de ter tido roubada a vida do filho por “pura maldade”; revolta de ver a impunidade reinar; revolta de saber que os culpados debocham da nossa luta por justiça, fica impossível levantar.
Vivemos numa democracia e em um Estado Democrático de Direito, sob as garantias de uma Carta Magna que protege a vida, acima de tudo.
Ora, o que representa a vida de um filho para uma mãe?
Garanto que muito mais que a própria vida.
Mãe é capaz de trocar de lugar com o filho para não vê-lo interromper sua vida.
Quantas mães já não perguntaram ao seu Deus porque não as levou no lugar do filho?
O luto por um filho assassinado, mais que em outros lutos, passa por estágios até ser compreendido e aceito, dá origem também à melancolia. Sabemos o que nos foi tirado, arrancado, extirpado, mas não conseguimos fechar a ferida.
As identificações que a mãe nutre com o filho e a incapacidade de superar seu desaparecimento dificultam a elaboração da morte realizada por meio do luto. O amor ao filho transforma-se em uma falta impreenchível.
Dito isso, só para que entendam um pouco do que sentimos, queremos externar aos pais de Bruno Ernesto, Inês Ernesto do Rego e Ricardo Figueiredo, nossa solidariedade ao tempo que clamamos ao povo paraibano que se junte aos mesmos, e ao nosso grupo, nessa luta contra a impunidade.
Chega de vermos a Paraíba atolada na lama da injustiça.
Chega de ter medo dos poderosos, que se acham donos da vida podendo roubá-la quando bem entenderem.
O grupo Mães na Dor João Pessoa, organização que tem como bandeira a luta contra a impunidade e a efetividade da justiça, vem externar à sociedade paraibana o seu repúdio contra a atitude da Juíza que, depois de tanto tempo, impediu que a justiça cumprisse seu papel.
Nosso repúdio vem desde os primeiros momentos do desdobramento deste caso de polícia, que parece caminhar para o nada. O que é, no mínimo, imoral.
O que aumenta a revolta, de todas nós “órfãs de filhos” é saber “da recente decisão da juíza Francilucy Rejane Sousa Mota. A juíza, como se sabe, mandou arquivar denúncia contra o ex Ricardo Coutinho, no inquérito relativo ao assassinato de Bruno Ernesto.”
Ou seja, precisamos da ajuda de toda sociedade para dar fim ao descaso que ainda reina em solo Paraibano.
Clamamos que venham nos ajudar com essa bandeira, que hoje está molhada pelas lágrimas de sangue de uma mãe, mas pode secar com os raios da justiça, e com a luz da esperança que brilhará após a aniquilação da impunidade.