Democracia requer democratas, confira com Palmarí de Lucena
Em sua mais recente crônica, o escritor Palmarí de Lucena trata da fragmentação da sociedade brasileira, transformada numa nação de eternos expectadores. “Nossas decisões são motivadas por possibilidades de ganho ou influência pessoal, raramente pelo bem coletivo”, diz o escritor. A via, realmente, é a democracia. O problema é que democracia exige democratas.
Confira a íntegra do comentário “Procura-se democratas”:
“Progresso social promovido pelo governo e crescimento econômico, em muitas instâncias, ocorre à revelia da sociedade civil. Especialmente quando o crescimento e fortalecimento de associações cívicas são atrofiados pela diminuição do engajamento voluntário e pela crescente dependência dos recursos e autoridade do Estado. A atrofia da sociedade civil relega o indivíduo a uma vivência conflitiva e politizada, na qual todos os caminhos levam a advogados, tribunais ou programas assistencialistas. Convocados gradual e frequentemente para exercer funções tutelares sobre pessoas e famílias disfuncionais.
Crescimento econômico e dificuldades em enfrentar os problemas da nossa sociedade, estão em curso de colisão. Reportagens com fatos sobre crimes violentos, tráfico de drogas, corrupção sistêmica, fragmentação da família e outros males sociais, são servidas diariamente na mesma mesa, acompanhadas com pronunciamentos dos arautos do Palácio do Planalto sobre a milagrosa retomada do desenvolvimento da economia brasileira. Escolhemos a rota mais fácil, nos transformamos gradualmente em uma nação de expectadores. Nossas decisões são motivadas por possibilidades de ganho ou influência pessoal, raramente pelo bem coletivo.
Enquanto a influência das nossas instituições sociais diminui, o estado verticaliza mais e mais suas relações com o povo. As possibilidades e benefícios de uma sociedade civil vibrante e democrática ofuscados pelo clientelismo, dependência, manipulações político-partidárias e oligarquias políticas que ameaçam sua sustentabilidade e entorpecem o desenvolvimento humano em uma atmosfera de progresso cívico e social.
A democracia é frágil. Tem que ser nutrida e protegida. Sábias palavras de Benjamin Franklin, ao descrever o sistema que criaram na Convenção Constitucional dos Estados Unidos da América: […] temos uma república, se pudermos mantê-la. Preservar uma democracia requer muito mais do que realizar eleições, legislar ou administrar a máquina do Estado. Requer um número imensurável de cidadãos associados para o bem comum e capacidade de autogoverno. Democracia requer democratas.”