O preço da imortalidade nas academias de letras, confira com Palmarí de Lucena
Em sua mais recente crônica, o escritor Palmarí de Lucena comenta sobre as veleidades de quem aspira a imortalidade nas disputas pelas academias de letras pelo mundo. Mostra como tem sido o perfil das academias, priorizado determinados grupos sociais. “Críticas sobre escolhas de membros da ABL, espelham as mesmas dúvidas e sentimento de alienação, provocados pela indiferença da Academie as aspirações de escritores não tradicionais e minorias”, postula.
Confira a íntegra do comentário “Imortalidade elusiva”:
Honoré de Balzac tentou sem sucesso; Emile Zola se candidatou por mais de doze vezes e foi sempre recusado; o poeta Paul Verlaine não conseguiu mobilizar nem um simples voto; Victor Hugo foi aceito por uma pequena margem de votos, após múltiplas tentativas de ser aceito como um membro do clube da elite de “40 imortais”, como são denominados os membros da Académie française, a augusta instituição guardiã oficial da Língua Francesa. Fundada pelo Cardeal de Richelieu em 1635, sob o reinado de Luís XIII, a instituição é tão exclusiva, que um número significante dos grandes escritores franceses nunca alcançou a cobiçada imortalidade acadêmica.
Dificuldade em escolher novos membros, é evidenciada pela inabilidade da Academie em obter uma maioria para selecionar ocupantes para quatro cadeiras abertas desde 2016, as três tentativas mais recentes no final de janeiro desde ano. O impasse reflete o conflito entre o desejo de manter as tradições culturais da França a todo custo e uma França lutando para se adaptar a um Século XXI, moldado pela globalização, migrações e levantes sociais da atualidade.
A composição da Academie é majoritariamente de homens brancos, cuja idade média é de 70 anos. Cinco mulheres e um homem negro são os únicos representantes de minorias. Como as deliberações dos membros são cobertas de mistério, é difícil de aferir se há algum esforço para modernizar ou modificar a instituição.
Ceticismo sobre a Academie também ocorre na Academia Brasileira de Letras (ABL}, uma cópia carbono da instituição cultural francesa no que diz respeito ao cultivo da língua e a divulgação da literatura nacional. Críticas sobre escolhas de membros da ABL, espelham as mesmas dúvidas e sentimento de alienação, provocados pela indiferença da Academie as aspirações de escritores não tradicionais e minorias.