Dificil prever o desfecho desse contencioso entre Trump e Lula, mas o fato é que poucas vezes as relações entre Estados Unidos e Brasil estiveram tão tensas, meu caro Paiakan.
O anúncio das tarifas de 50% imposto a produtos brasileiros para entrada nos EUA foi um duro golpe nas nossas exportações. E que, por tabela, também devem afetar a economia americana, ainda que as importações representem apenas 2% do comércio nos EUA. Na verdade, foi um exagero sem justificativa econômica.
Trump usou, claramente, uma motivação política para impor as tarifas, que mais parecem sanções. Até porque a conta da balança comercial, hoje, favorece os Estados Unidos. Citar o julgamento de Bolsonaro e, segundo ele, perseguição política ao ex-presidente, soou claramente como uma represália.
E o fato é que o presidente americano terminou dando a Lula a possibilidade de contra-atacar: “O Brasil é um País soberano, com instituições independentes, que não aceitará ser tutelado por ninguém… o processo judicial contra aqueles que planejaram o golpe de Estado é de competência apenas da Justiça brasileira e não está sujeito a nenhum tipo de ingerência.”
Outro efeito colateral é o acirramento da polarização ideológica no Brasil. De um lado, o PT e assemelhados dizem que as tarifas são culpa da ação de Eduardo Bolsonaro nos EUA. De outro, o PL e toda a oposição responsabilizam o Governo Lula, por ter reiterado críticas ao presidente Trump desde as eleições nos EUA.
Durante as eleições do ano passado, Lula, que apoiou Kamala Harris, vice de Biden, chegou a dizer Trump representa “o fascismo e o nazismo voltando a funcionar com outra cara”. Agora recente, na reunião dos Brics, o petista voltou a criticar o presidente americano, e sinalizou deixar o dólar como moeda no comércio internacional.
São, enfim, duas narrativas. Resta aguardar qual delas irá prevalecer. Enquanto isso, as empresas brasileiras que exportam para os Estados Unidos seguem em sobressalto, até que haja uma solução para o contencioso. E, como a motivação de Trump é, majoritariamente, política, a solução terá que vir por esta via.
Condições – O deputado licenciado Eduardo Bolsonaro, aparentemente, deu a pista do que o Governo americano defende para equalizar as relações entre os dois países:
- O primeiro ponto: uma anistia ampla, geral e irrestrita. Não só para os manifestantes do 8 de Janeiro, mas para todos, inclusive para o próprio Alexandre de Moraes,
- Segundo: que haja eleição livre no ano que vem, com Jair Bolsonaro podendo se candidatar em um sistema que seja, de fato, auditável,
- O terceiro ponto: a saída de Alexandre de Moraes do STF, seja por meio de impeachment ou outra forma. A avaliação é que Moraes não tem condições de continuar na Corte.
São condições que dificilmente serão aceitas pelo presidente Lula, meu caro Paiakan. O risco é que o embate termine por escalar, ganhando proporções catastróficas.