É possível construir e manter uma democracia sem democratas? Confira com Palmarí de Lucena
Novo comentário do escritor Palmarí de Lucena, “Democracia requer democratas”, mira na necessidade da vigilância constante contra os que operam contra a democracia. Cita, inclusive, Benjamim Franklin, quando observou: “Preservar uma democracia requer muito mais do que realizar eleições, legislar ou administrar a máquina do estado. Requer um número imensurável de cidadãos associados para o bem comum e capacidade de autogoverno.”
CONFIRA A ÍNTEGRA DO ARTIGO…
“Descrições coloridas por preferências políticas ou classes sociais demonstram a impossibilidade de definir precisamente o significado e, muitas vezes, a função da sociedade civil na democracia moderna. Sabemos, em termos gerais, que ela é produto da associação livre de famílias, vizinhos, grupos comunitários e cívicos, organizações sem fins lucrativos e redes sociais de milhares de variedades, como observou Alexis de Tocqueville. Comentários sobre a vitalidade e a importância do voluntariado na democracia, motivaram a explorar de perto e a converter-nos em protagonistas dos movimentos sociais na América dos anos 60.
Levamos conosco uma bagagem de ensinamentos adquiridos na nossa juventude em João Pessoa, quando partimos em 1964. Respeito à dignidade e direito alheio, convivência democrática e comprometimento social. Valores promovidos e praticados por ¨Seu¨ Odilon no Círculo Operário de Jaguaribe e nos Escoteiros do Tenente Lucena nos prepararam para embarcar no mundo de Alexis de Tocqueville, tão estrangeiro como fascinante. A sociedade civil é a chave-mor de uma sociedade possível e de uma democracia duradoura…
Caracterizar a sociedade civil como algo na esfera econômica ou política é incorreto e pouco democrático. Ela pertence à esfera social, lugar comum onde indivíduos se congregam para formar relações horizontais, fortalecidas pela confiança e motivando a colaboração cidadã.
Progresso social promovido pelo estado e crescimento econômico, em muitas instâncias, ocorre à revelia da sociedade civil. Especialmente quando o crescimento e fortalecimento de associações cívicas são atrofiados pela diminuição do engajamento voluntário e pela crescente dependência dos recursos e autoridade do estado. A atrofia da sociedade civil relega o indivíduo a uma vivência conflitiva e politizada, na qual todos os caminhos levam a advogados, tribunais ou programas assistencialistas. Convocados gradual e frequentemente para exercer funções tutelares sobre pessoas vulneráveis e famílias disfuncionais.
Recentemente nos perguntamos: Se estamos tão bem, por que nos sentimos tão preocupados? Muitos brasileiros gostariam de ter a resposta.
Prosperidade e dificuldades em enfrentar os problemas da nossa sociedade, estão em curso de colisão. Reportagens com fatos sobre crimes, drogas, corrupção, fragmentação da família e outros males sociais, são servidas diariamente na mesma mesa, acompanhadas com notícias sobre o extraordinário desenvolvimento da economia brasileira. Tomamos a rota mais fácil, nos transformamos gradualmente em uma nação de expectadores. Decisões governadas por preferências e possibilidades de ganho pessoal. Esquecendo o bem coletivo.
Enquanto a influência das nossas instituições sociais diminui, o estado verticaliza mais e mais suas relações com o povo. As possibilidades e benefícios de uma sociedade civil vibrante e democrática ofuscados pelo clientelismo, dependência e manipulações político-partidárias que ameaçam sua sustentabilidade e entorpecem o desenvolvimento humano em uma atmosfera de progresso cívico e social.
democracia é frágil, temos que lembrar sempre. Tem que ser nutrida e protegida. Sábias palavras de Benjamin Franklin, ao descrever o sistema que criaram na Convenção Constitucional dos Estados Unidos da América: […] temos uma república, se pudermos mantê-la. Preservar uma democracia requer muito mais do que realizar eleições, legislar ou administrar a máquina do estado. Requer um número imensurável de cidadãos associados para o bem comum e capacidade de autogoverno. Democracia requer democratas.”