Em demanda do Pavão Misterioso, confira com Palmarí de Lucena
O novo comentário do escritor Palmarí de Lucena não é sobre política, mobilidade urbana ou algumas das mazelas da modernidade. Palmarí se reporta a uma viagem pelos chamados caminhos do frio, e aborda sua passagem por Piloenzinhos, terra de José Camelo de Melo, autor de um dos textos de cordel mais famosos do cancioneiro nordestino: O romance do pavão misterioso.
CONFIRA A ÍNTEGRA DO COMENTÁRIO…
“Contrastando a mesmice verde do campo irrigado pelas chuvas, um casarão branco com janelas azuis e pequena capela servindo como contraponto para as trilhas lamacentas esculpidas por veículos e carroças. Moradores sentados no degrau de uma pequena casa observando o tédio cinzento de um cotidiano sem grandes possibilidades. Único resquício do progresso prometido, uma motocicleta pobremente ornamentada, sonhos frustrados pelos homens que viviam bem longe daqui. Estávamos em Pilõezinhos, berço do visionário criador do Pavão Misterioso.
Sentíamo-nos irremediavelmente seduzidos pelos movimentos da gangorra entre o tempo e o espaço, como se estivéssemos viajando por terras distantes na maravilha mecânica de João Evangelista. Fantasias desafiando o obvio, verdades desaparecendo entre o consciente e o inconsciente. Outro viajante nosso favorito Peer Gynt, buscara incessantemente a autoafirmação que ele próprio nunca compreendera. Delírios poéticos transformando-se em antídoto para seu medo da vida e do amor. Imaginamos um encontro entre os dois viajantes, a lógica do evento escapando intempestivamente no labirinto verde-cinzento do surto imaginário que nos afligira, enquanto bailávamos nervosamente pelos deslizes e perigos da travessia pelo mar de lama.
Encontramos um grupo de jovens caminhando cautelosamente nas trilhas alagadas, encostas escorregadias. Versões populares de roupas de personagens de novelas, insuficientes para protege-las das intempéries da natureza. Mochilas carregadas de livros e boia fria, chinelos genéricos expondo a capilaridade da pobreza prelúdio de vidas adultas complicadas. Bela plumagem e pés feios, nação distante dos sonhos de adolescentes marchando aos ruídos alegres de suas vozes, quebrando a melancolia dos campos e serras dos seus cotidianos. Ora vivendo sonhos de viagens pelos céus, ora dispensando a donzela Creusa de João Evangelista pela Princesa Frozen de Walt Disney. Qualquer que fosse a escolha, sempre teriam a herança do Pavão Misterioso…”