Enchentes no Rio: Padre cobra mesma solidariedade com desabrigados da seca
Nos últimos dias, o Brasil tem se mobilizando em intensa campanha de solidariedade para com as pessoas desabrigadas com as enchentes ocorridas, recentemente, no Rio de Janeiro. A mídia nacional tem reservado espaços generosos para clamar por providências e acudir as famílias atingidas.
Mas, curiosamente, o mesmo não tem ocorrido com os desabrigados com a seca inclemente que se abate em boa parte da região Nordeste. Esta tem sido a lamentação do Padre Djacy Brasileiro. Que se acuda os irmãos do Rio atingidos pela enchente, mas que não se esqueça dos nordestinos castigados pela seca.
Acompanhe o desabafo do padre: “Após assistir ao Jornal Nacional observei que um bom tempo do referido noticiário foi para mostrar e falar sobre o sofrimento, o desespero, das vítimas das enchentes, no Rio de Janeiro. Os apresentadores e repórteres, quase com vozes embargadas e olhos lacrimejados, falaram sobre o grito de dor de centenas de cariocas. Após seu término, fiquei a pensar: nesta hora, o Brasil está comovido, chorando. Sensibilidade brasileira à flor da pele!
Uma enchente só, num só dia, com seus efeitos catastróficos, leva a grande Mídia a dar repercussão nacional, consequentemente levando as autoridades estaduais e federais a agirem rapidamente e, ao mesmo tempo, o povo brasileiro ao sentimento de compaixão, de solidariedade. Nada contra, pelo o contrário!
Eis o meu desabafo:
Há mais de ano que a seca no sertão nordestino vem atuando ferozmente, deixando seu rastro de devastação, de morte, e a grande mídia parece ignorar essa tétrica realidade.
Sede, fome, miséria, mortes. Milhares de seres humanos clamando pungentemente por água e pão, mas não há comoção nacional e nem internacional. Reina o silencio governamental, a sociedade se omite e a grande Mídia nada fala.
Vejo o drama angustiante e desesperador dos sertanejos. Ouço seus clamores. Sinto sua voz embargada e olhos lacrimejados. Todos pedem socorro, mas as autoridades e segmentos representativos da sociedade civil parecem surdos.
O sertão seco, torrado, sob sol causticante, se agoniza, mas as chuvas não vêm. O sol brilha forte e queima, como a dizer: “o sertanejo é, sobretudo, um forte”, aguenta tudo.
Pais de famílias desesperados esperam pelas mãos generosas, solidárias, dos que têm bom coração.
Pequenos criadores assistem passivamente seus rebanhos serem dizimados pela fome e sede. O sertão virou um verdadeiro céu aberto de animais mortos. Os abutres fazem festas. É a festa da carniça. É um deus nos acuda!
Açudes, barragens, riachos e poços secos, causando verdadeiro pavor e sensação de que a sede vai matar milhares de sertanejos. O governo age com sua eterna e oportunista política paliativa. Solução, nada!
Os mananciais esperando as águas do velho Chico, através da transposição, mas o governo diz que a Copa 2014 é prioridade. E viva os estádios, vilas olímpicas, as classes empresariais, os atletas com seus milhões de reais. E a seca continuará catingando.
Após assistir ao Jornal Nacional, absorto nos meus pensamentos, questiono:
Por que a seca que tanto castiga, mata, não tem espaço demorado na grande Mídia? Por que não causa comoção nos jornalistas e em todo o país?
Por que os apresentadores de telejornais não falam com voz embargada sobre as vítimas da seca, que sofrem com a sede e a fome? Nenhuma sensação de dor, de compaixão, de sensibilidade humana e cristã. Por quê?
O sudeste se acabando com água, o sertão nordestino, com seca. Aquele, socorrido de imediato pelas as autoridades governamentais, divulgado, chorado, causando comoção nacional e internacional; este, coitado, esquecido, ignorado, quase socorrido com as eternas esmolas dos governos e da sociedade.”