Escritores divergem sobre voto para governador
A polêmica está no ar e envolve personagens proeminentes da classe artística. Há poucos dias, o maestro João Linhares incendiou o paiol, anunciando que jamais votaria de novo em Ricardo Coutinho. Na sequência, Waldemar Solha postou em seu Facebook uma declaração de votos em Ricardo. Mas, foi rebatido pelo poeta Ed Porto.
“Não há como negar que Ricardo Coutinho foi o melhor prefeito que João Pessoa já teve e, também, o melhor governador da Paraíba”, disse Solha, em longo texto, citando recente diálogo que manteve com RC. Ed Porto veio no revide: “Por que só agora a 15 dias das eleições o “sensível” RC dialoga com você meu caro Solha? Será que só sente prazer em falar contigo? Ou ele estava mouco?”
Solha é poeta, romancista, cordelista, ator e dramaturgo, com vários livros lançados. Ed Porto é poeta, também consagrado.
É possível conferir a polêmica no Facebook, mas os textos seguem abaixo:
TEXTO DE SOLHA:
“Dizem as pesquisas, que Ricardo Coutinho não será reeleito. Não acredito. Como não acreditei, na campanha anterior, que Maranhão venceria, mesmo com essas mesmas pesquisas teimando nisso. A terra que deu Augusto dos Anjos, Zé e Pedro Américo, Vladimir e Walter Carvalho, Zé e Elba Ramalho, além de Celso Furtado, Ariano, Maestro Siqueira, Assis Chateaubriand e Zé Lins, e que eu mesmo já rotulei de a terra com mais gênios por metro quadrado deste país, não cometeria esse erro, pois não há como negar que Ricardo Coutinho foi o melhor prefeito que João Pessoa já teve e, também, o melhor governador da Paraíba. Não é preciso muito pra se comprovar isso: basta uma visita, aqui em João Pessoa, à Estação Ciência, ao Espaço Cultural, à Fundação Casa de José Américo, ao Cief – antigo DEDE – , e ao Centro de Convenções. São obras que marcam o porte desse estadista. Mal comparando, é como se pudéssemos – e podemos – medir tudo o que Péricles fez por Atenas pela magnífica Acrópole, estupendo Partenon. Pela unha se conhece o leão.
Ainda me espanta, ao ler as colunas dos experts em política local, constatar que se fale na decisiva força de coligações, apoios de políticos, redutos eleitorais (que, antigamente – no tempo dos coronéis – eram chamados currais ), donde a iminente derrota de Ricardo Coutinho, elementos que ele teria perdido por ter a cara amarrada e por ser concentrador. Mas… e o povo? Quem vota não pesa, nessa avaliação estranha, em pleno terceiro milênio? Não se fala no povo, caramba, como nos tempos de Cristo, em que foi aconselhado, sobre o pagamento do tributo a Roma, que se desse a César o que era de César e a Deus o que era de Deus, sem que se desse a mínima a toda aquela miséria em Jerusalém, na Galileia, na Samaria, na Eritreia e em Idumeia, “porque os pobres sempre os terei convosco”?
Acompanho, como todo mundo, a carreira de Ricardo Coutinho desde o seu início. Dei um quadro meu para a campanha dele para vereador. Dois, quando se candidatou a deputado. Não que eu considere meus trabalhos coisa do outro mundo, mas era o melhor que eu fazia. Gravei vt de um minuto, quando ele se propôs a governar a Paraíba. Por que? Lembro-me de quando morava em Pombal e me meti num bate-boca com autoridades estaduais que vinham apoiar o candidato contrário ao Doutor Atêncio Bezerra Wanderley para a prefeitura, sabendo que ele era um homem admirável. Lá pelas tantas, um secretário do estado me perguntou qual era o meu interesse pra defesa tão apaixonada do meu candidato, e a resposta me veio rápida:
– Moro aqui. E isto está abandonado. Dizem que Pombal só irá pra frente se o açude de Coremas se romper. Mas todo mundo, aqui, sabe que não. O Doutor me disse uma frase lapidar, a respeito: “Não é preciso ser um administrador fora do comum para se conseguir melhorar a situação. Basta ser honesto.” E ele é honesto. E ama a terra dele. Pois bem. Por mim, já deveria ter sido encontrado um outro meio de se lidar com a coisa pública. É terrível tudo o que a classe política vem fazendo e ainda vai fazer com este país. Absolutamente escabroso. Mas essa coisa nova ainda não apareceu. Tenho um livro do século XIX – O Homem Segundo a Ciência, de Luis Büchner – em que ele prevê maus bocados para o comunismo, em face do invencível egoísmo humano. Daí que me lembro de ter ouvido muito uma frase, quando a União Soviética ainda existia: “Só vai na bala”. Não foi. E temos, por isso, enquanto não aparece uma saída, de escolher o melhor possível, em nossas eleições. A Paraíba, portanto, que sempre me assombrou pela desproporção entre a inteligência de seu povo e o tamanho e pobreza de sua terra, vai votar em Ricardo Coutinho. Ou não será, mais, a terra com mais gênios por metro quadrado, deste país.”
TEXTO DE ED PORTO:
“Solha,
Parabéns pelo êxito em conseguir a interlocução de RC, embora ele não tenha respondido a sua pergunta sobre a Lei Cultura Viva: “Por que não a implanta agora, com algo que pelo menos lembre o apoio que o Eduardo Campos deu ao cinema pernambucano?”. Ele preferiu tergiversar com as velhas e batidas desculpas como: “pegamos um Estado quebrado”, “tem muita coisa a ser feita”, “talvez seja pela ignorância da realidade” etc. Também falou de reformas prediais inacabadas (Espaço Cultural, Teatro Santa Rosa, Teatro ICA e Teatro do Centro de Convenções) e acabadas (FCJA e Cine São José). Falou de 2 eventos (Festival de Areia e Circuito do Frio) e da única ação de formação cultural em 45 meses de governo (Programa de Inclusão Social através da Música e das Artes – PRIMA). Este Programa solitário e também incompleto, pois não contempla o A (Artes) de sua sigla (Por isso o tenho chamado de PRIM). Algumas considerações sobre estes 3 tópicos:
REFORMAS
Havemos de convir que as tais reformas inacabadas são importantes, porém não são ações suficientes numa Política Cultural para o Estado. O povo precisa destes locais, mas também precisa de políticas para a formação e o desenvolvimento de habilidades culturais. Quando prefeito de JP, RC prometeu a Escola de Artes do município, mas não cumpriu a alardeada promessa. Esta sim seria uma importante mostra de que havia preocupação prioritária com a formação de uma comunidade. Enquanto governador, não investiu na Escola de Música Antenor Navarro (http://www.funesc.pb.gov.br/cultura/index.php?option=com_content&view=article&id=68&Itemid=58) fundada há 83 anos e que poderia receber melhor atenção de sua gestão. Escolas como estas poderiam ser paulatinamente construídas na PB, sem o viés marqueteiro do PRIM. Ora, se o governo não dispunha de recursos financeiros para tal, bastaria de início criar mecanismos de apoio a ações isoladas deste tipo que ainda perduram, a duras penas, em bairros da Capital (Mandacaru, Alto do Mateus etc.) e, provavelmente, do interior. Mas, optou pelo Programa marqueteiro PRIM sobre o qual falarei adiante.
Poderia realizar primeiro a reforma do Teatro Santa Rosa e depois a do Espaço Cultural. (Por que não a reforma da Escola Piollin?) Talvez agindo assim não paralisasse as atividades da OSPB por quase 2 anos (a Orquestra poderia ser abrigada pelo Teatro), deixando JP e o Estado sem atividades orquestrais, com músicos, maestro e equipe de apoio da OSPB recebendo sem trabalhar. Além de toda a péssima repercussão que esta crise causou. Falta de assessoria? Talvez. Os teatros (ICA e Santa Rosa), assim como o Espaço, continuam em obras. Ademais, reformas prediais me parecem mais da alçada da secretaria de Infraestrutura do que da secretaria de Cultura (SECULT). Portanto, como afirma RC, a “gestão que demonstra esse tipo de apreço por espaços de circulação da cultura”, deveria ter mais apreço pela circulação da cultura do que pelo espaço. E apreço maior ainda pela formação cultural do povo. E não foi isso que os paraibanos viram nestes últimos 4 anos. Pouca circulação, com várias casas de espetáculo inoperantes, e quase nenhuma formação. E por falar em reformas, por que não falar em construção? Por que não um museu para Augusto dos Anjos, outro para Sivuca, outro para Jackson do Pandeiro, outro para Ariano Suassuna e para tantos mais? Falta de assessoria? Talvez. Uma vergonha que a PB possua tantos artistas de renome, sem a devida consideração de seu estado natal.
EVENTOS
Também havemos de concordar que eventos são parte importante na formação cultural, mas não são suficientes. Talvez os recursos devessem ser aplicados prioritariamente nas Escolas e secundariamente nos eventos. Os jornalistas culturais e investigativos paraibanos deveriam apurar o quanto se gasta em eventos na PB para mensurarem o quanto destes gastos poderia ser investido em formação. Menos eventos e mais formação. Ademais, os artistas de fora recebem cachês mais gordos e mais rapidamente do que os artistas locais: outra falta de respeito. E o tão prometido FENART? Tantos da turma laranja divulgando as possíveis datas do FENART e nada. Culpa dos pedreiros “secretário” de Cultura?
PRIMA
O filho único da inclusão social (e formação cultural) foi gerado sem qualquer consulta à classe artística. Diz-se das Artes, mas é exclusivamente da Música. Coincidentemente o ofício do “secretário” de Cultura. A música tem sido novamente a arte-mãe enquanto a literatura é o primo (com trocadilho) pobre das artes. Há inúmeros casos na Paraíba de inclusão social através da literatura (rodas de leitura), da dança (movimento hip-hop, capoeira? etc.), do cinema (Parahywa), do circo (Piollin) etc. Das Artes em geral. O PRIMA (http://www.primaparaiba.com/) precisa de onerosa infraestrutura física (prédios para orquestras e instrumentos musicais) e humana (professores e equipe de apoio). Algum jornalista investigativo sabe quanto tem custado o PRIM ao Estado? Quantos são e quanto os tutores, professores e pessoal do suporte recebem? Qual o orçamento? Quanto se gastou com instrumentos orquestrais? Será que o PRIM é eficiente e prioritário? RC diz que “Só não posso fazer o que não esteja ao alcance do Estado”. Será que não há Programa menos onerosos e mais eficazes? A classe artística foi consultada? O Conselho Estadual de Cultura (CEC) aconselhou o PRIM (Alô Vitória, poetisa e membro do CEC)? O que o CEC tem feito de concreto em prol da cultura? Como mensurar os benefícios ou resultados do PRIM? Qual o custo-benefício deste Programa? Quantas vezes ele é mais caro que o FIC que totalizou 6 milhões em 4 anos (1,5 milhão por ano)? E olha que o FIC é um grande guarda-chuva para projetos em literatura, dança, artes plásticas, audiovisual, artes circenses, teatro etc. A grana é suficiente? Quais os projetos ou programas do governo para estas áreas: literatura, dança, artes plásticas, audiovisual, artes circenses, teatro etc.? 6 milhões de reais do FIC dão conta de tudo e de todos?
Já fiz todas estas e outras tantas questões durante os últimos 5 anos. Com um pouco de paciência, meus ilustres leitores podem acessar ed_porto.blog.uol.com.br e lerem desde setembro de 2009 o que acho das coisas da cultural local. Sabem a resposta do governo, seus assessores de comunicação, seu “secretário” de Cultura? O silêncio. Um longo e desprezível silêncio como resposta. Jornais impressos e online publicaram posts deste blog. Vez por outra os Pedro (Osmar e Santos) me escrachavam. Mas, diálogo que é bom e democrático: nada. Sorte sua Solha que tem cacife para receber um e-mail de RC com o elenco de resultados retumbantes de sua administração: “Estamos preparando um Estado mais respeitoso para com a cultura, isso é fato”. Que respeito é esse no qual os que argumentam são desprezados? O pessoal do audiovisual entregou nas mãos do “secretário” pelo menos 2 abaixo-assinados com lista de reinvindicações. Eu vi com estes olhos que a terra há … Sabem qual foi a resposta? O silêncio. E a gaveta. Que respeito é esse no qual os que argumentam não são considerados? Por que só agora há 15 dias das eleições o “sensível” RC dialoga com você meu caro Solha? Será que só sente prazer em falar contigo? Ou ele estava mouco?”