Et tu, feles?, confira a crônica romana de Palmarí de Lucena
Em sua mais recente viagem a Roma, o escritor Palmarí de Lucena colheu observações curiosas sobre a cidade eterna, “uma cápsula de tempo de lendas misturadas com acontecimentos históricos, sentimo-nos mais sábios menos indiferentes a um mundo que poucos conhecem ou entendem”.
Confira a íntegra de “Et tu, feles?!”, sua mais recente crônica. Imperdível. Como sempre:
Retornando a Roma provoca a sensação de estar perdido no tempo, que sua última visita nunca terminou. Sempre há algo novo convivendo em perfeita harmonia com algo milenar. O presente é o eterno, desafiando modernidades com os espólios de um passado que nunca passou. Flanando pela cidade, uma cápsula de tempo de lendas misturadas com acontecimentos históricos, sentimo-nos mais sábios menos indiferentes a um mundo que poucos conhecem ou entendem. Pausamos em adoração ou humildade diante dos triunfos e das tragédias de um povo que falava uma língua que nunca conseguimos dominar. Poucas palavras ou frases permanecem na memória comum, sem nunca esquecemos da tristeza imbuída na angustia de Julio Cesar, Et tu, Brute?
O Largo di Torre Argentina é um dos lugares mais movimentados da cidade, abrigando uma grande livraria, paradas de ônibus, taxis, bondes elétricos e o Teatro Argentina. Colmeia humana, residentes e turistas ziguezagueando em todas direções.
Poucos param para observar a chamada área sacra, um vasto complexo arqueológico descoberto durante obras realizadas no final da década de 1920. Ruinas de quatro templos e vestígios da chamada Cúria di Pompeo, o lugar onde reunia-se o senado romano e, em 44 A.C, palco da conspiração liderada por Marcus Julius Brutus, que culminou no brutal assassinato de Júlio César, o último governante da República.
Gatos passeando desimpedidos pelas ruinas ou empoleirados nos muros no perímetro da área sacra, atrações turísticas e motivos de especulações sobre a aparência de abandono causada pela presença de animais. Culto pelo gato é algo milenar entre romanos. Venerado no Egito Antigo como Bastet, deusa de aparência felina e como Artêmis na Grécia, como a Senhora dos Animais, tornando-se eventualmente parte da mitologia romana. Observamos os gatos pela primeira vez na década de 1970, nosso reencontro com eles transformou-se em uma continuação do fim de uma visita que nunca terminara. Na área sacra, nem todos gatos são pardos.