Ex-secretário questiona se Freire não foi agente duplo da ditadura
O Blog publica interessante artigo do ex-secretário Ademir Alves de Melo, resgatando um momento histórico do Brasil, nos tempos tenebrosos da ditatura militar, da qual foi vítima. Ademir cita o personagem Roberto Freire, presidente do PPS nacional, e levanta dúvidas se ele não atuou como agente duplo, entregando aqueles que fugiam do regime.
Para Ademir, apesar de seu passado no PCB, Roberto Freire se elegeu pela Fiesp e “converteu-se em incondicional aliado das forças tenebrosas que semeiam guerras no mundo.” Ademir, como se sabe, foi um dos muitos paraibanos perseguidos, que se viram obrigados a deixar o País, para ser assassinato pelos militares. O artigo de Ademir tem como título “A dúvida”.
Confira o texto na íntegra: “circula no Facebook matéria sobre o papel do deputado Roberto Freire (PPS) como possível agente da ditadura.
Gostaria de registrar meu depoimento: em 1969, fui cassado (AI-5) como dirigente estudantil da UFPE. O Arcebispo de Olinda e Recife, que saiu em defesa de todos os colegas expulsos da universidade e perseguidos pela ditadura, tinha como principal auxiliar no Palácio dos Manguinhos, Dona Maria Freire, tia de Roberto Freire.
Certa vez, manifestei a Dom Hélder o interesse por deixar o país, para concluir os meus estudos. Foi então que ele, na minha presença, ligou para a aludida auxiliar, sugerindo que ela falasse com o então procurador jurídico do INCRA. O então sogro de Roberto Freire era ex-senador socialista Antonio Baltar, técnico da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, órgão da ONU), com sede em Santiago.
Roberto Freire transmitiu à sua tia a mensagem de que deveríamos encontrá-lo em sua residência na manhã seguinte. O encontro foi agendado para as 6:00h da matina, na sua residência, no Bairro do Rosarinho.
Devido a um desencontro com o meu parceiro, também cassado (Osvaldo de Moraes Sarmento, estudante de Economia e funcionário do Banco do Brasil), nos atrasamos no cumprimento da missão.
Ainda assim, fomos ao local agendado um pouco mais tarde (em torno das 7h.). Ele saiu à sacada do terraço, ainda de pijama, aperreado. Apressou-se em mandar que caíssemos fora, pois o DOPS havia estado a noite toda à nossa espera. Reagendou o encontro para mais tarde (10h.) na sede do INCRA, na Avenida Conselheira Aguiar, nas proximidades do Clube Náutico Capiberibe. Fomos e recebemos a senha para o contato no Chile.
Viajei só. Fui recebido, no Terminal Rodoviário de Santiago, por Paulinho Baltar (hoje, professor na Uniamp), filho do então sogro de Roberto Freire. Antônio Baltar e família receberam-me com carinho filial. Solidariedade total.
Mas a dúvida ficou: estava o telefone de Dom Hélder grampeado ou Roberto Freire atuava como duplo agente? Nada me autoriza a dizer que sim, até porque poderia ter sido perseguido antes de cruzar as fronteiras.
Roberto Freire constituiu nova família (os Baltar honram o nome daquele grande homem, companheiro de lutas ao lado de Pelópidas Silveira e Miguel Arraes). Hoje, tornou-se um deputado federal eleito com o apoio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, e tem se revelado um conservador obstinado, antissocialista, inimigo na primeira linha do governo Lula/Dilma e do movimento bolivariano na América Latina e das forças progressistas em geral. Converteu-se em incondicional aliado das forças tenebrosas que semeiam guerras no mundo.”