FAÇA O QUE EU DIGO… Crítica de FHC à reeleição sem assumir que impôs sua aprovação ao Congresso em 97 é muita cara de pau
Tenho a impressão, meu caro Paiakan, que o ex-presidente FHC está fazendo treinamento para cara de pau. Seu mais recente artigo, criticando o instituto da reeleição no Brasil, é um primor de cinismo, com todo o respeito que ele merece, especialmente pela concepção do Plano Real.
Ora, não creio, sinceramente, que ele tenha perdido parte de sua memória, o que ela tenha se tornado seletiva para ele. FHC deve estar esquecendo que foi ele, o próprio, que mobilizou o Congresso Nacional para a aprovação da reeleição, porque, obviamente, queria mais quatro anos no poder.
Posso falar porque cheguei a acompanhar, em Brasília, nos idos de 1997 (28 de fevereiro), a votação reeleição, e era perceptível a ação de seu governo para convencer deputados e senadores a aprovar a emenda que propiciou a possibilidade da recondução. Houve, na verdade, várias denúncias de compra de votos.
Pior: de acordo com o texto sugerido e aprovado pelo Congresso, o sujeito tinha a possibilidade de ser candidato à reeleição… no cargo! Que foi o que ocorreu, inclusive, com o próprio. E é o que ocorre, atualmente, com todos os nefastos efeitos que temos observado, especialmente aqui na Paraíba do Calvário.
Vir agora dizer que o instituto da reeleição é um erro, e que não deveria ser permitido sua aprovação chega a ser escárnio e um acinte com a memória do brasileiro. Que a reeleição foi uma péssima ideia, é induvidável, especialmente por permitir governantes de serem candidatos sem precisar se desincompatibilizar.
Mas, dizer, agora, que não deveria ter permitido a aprovação da emenda da reeleição é, repetindo, muita cara de pau. FHC contribuiria muito mais para o processo democrático escrevendo suas memórias. Inclusive, sem escamotear quem realmente foi e o que realmente fez.
Pra não esquecer – Toda a mídia da época denunciou esquema de compra de votos para a aprovação da emenda. Em gravações, os deputados Ronivon Santiago e João Maia, ambos do Acre (e à época filiados ao PFL, hoje DEM), relatavam ter recebido R$ 200 mil em dinheiro para votar a favor da reeleição.
Entretanto, mesmo com todos os indícios, o então procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, rejeitou os pedidos para que uma denúncia contra FHC fosse apresentada ao STF (Supremo Tribunal Federal).
Só lembrando: Brindeiro ficou depois conhecido como “engavetador-geral da República”. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito foi abafada pelo Planalto, com a distribuição de cargos para partidos aliados a FHC.