Leitores da Noruega e Portugal comentam “Dom Agapito”
“O Incrível Testamento de Dom Agapito” tem recebido avaliações de leitores do Brasil e até outros países. Como foi o caso, por exemplo, de Aninha Meireles Johnasen, da Noruega, que traduziu o livro para outras pessoas de Oslo lerem. Dom Agapito certamente não teria imaginado essa “invasão” em terras vikings.
Porém, dentre os comentários mais recentes, oportuno destacar o que me foi enviado pelo leitor Luís Pinto, de Portugal, a partir de um exemplar levado a Nazaré por uma portuguesa radicada no Brasil, Manuel Moraes. Luís Pinto revela ter sido um “prazer ler o livro”. O texto na íntegra segue na sequência.
Diz: “O personagem principal, já falecido na primeira página da ficção, está, todavia, sempre presente ao longo do livro e, muito embora o autor chame a atenção para o inverossímil da trama, o leitor é desde logo convidado a prosseguir na leitura porque as palavras escritas acontecem simples, escorreitas e no lugar onde devem estar.
Escrever, escrever bem, não é para todos. Saber contar uma história de tal modo que esta tenha vida, é também, e só, para alguns. O meu caro escritor tem ambas as qualidades; escreve bem e sabe contar histórias. Este seu romance não é apenas uma história, são muitas.
Dom Agapito caminha pelas páginas revisitando todas as suas mulheres, e estas desnudam-se em testemunhos vários pondo a descoberto um passado oculto, a bem dos costumes e da moral; que importa contar aventuras de alcova com o herói de Óbidos se está em causa a repartição duma fortuna anunciada (maior que uma província inteira com castelo medievo).
Na complexidade das vidas intimas há uma, quiçá, que me merece maior leitura; exactamente a do casal Praxedes/Dona Graciosa, por o complacente juiz, consciente do seu papel de homem cornudo (estado tornado publico pelos Impiedosos) abandona-se ao ardil do poder da mulher e encara o infortúnio. Para quê levar a sério tal desdita, tal desaforo na aventura de sua mulher, se esta é uma suprema fêmea e reconhecida cozinheira de alto mérito?
O seu romance é um mundo actual e um mundo de sempre, pois está condimentado com a realidade de todos os dias; as notícias da imprensa, os ditos e desditos, a injuria, a inveja, a política maltrapilha, a ignorância, a ambição, a intriga, os antagonismos religiosos…
O leitor folga por, finalmente, vir a saber que o dinheiro de Dom Agapito de nada vale, antes será necessário pagar a divida monstruosa, como se, por ironia, os prazeres vividos por parte da população de Óbidos, tivessem tido o seu preço só agora revelado.”