Macarthismo Tabajara, por Palmarí de Lucena
O escritor Palmarí de Lucena, em sua mais recente crônica, “Macarthismo Tabajara”, trata do comportamento de determinados militantes políticos que se valem da difamação de adversários, “usando acusações de esquerdismo como um bicho papão ameaçando a sobrevivência da República”. Um verdadeira caça às bruxas, especialmente no ambiente das redes digitais. Confira a íntegra de seu oportuno comentário:
Presenciamos a difamação de um grupo de brasileiros, opostos politicamente a aspectos do programa de governo e inconsistências na construção de políticas públicas, usando acusações de esquerdismo como um bicho papão ameaçando a sobrevivência da República. Líderes culturalmente incapazes de entender a crise existencial que atravessamos: se estamos tão felizes, por que nos sentimos tão inseguros? Crise exacerbada pela inteligência emocional precária do cabal de janízaros digitais, que usam sucedâneo patriotismo para justificar uma caça às bruxas, a purificação ideológica.
Acusações infundadas contra críticos nos remetem às perseguições da ditadura militar, contra pessoas taxadas de esquerdistas ou subversivos. Campanhas do medo, teorias de conspiração, fake news, ataques a jornalistas investigativos que expõem a corrupção e incompetência da elite política, e uso deliberado da marreta econômica do Estado, para inviabilizar publicações consideradas adversárias. Táticas autoritárias, armas outrora usadas para amordaçar críticos e dissidentes.
Vivemos uma batalha de desconstrução político-cultural — e possível, entre as “pessoas de bem” e “esquerdistas antipatriotas”, para muitos o equivalente moral da batalha entre Gogue e Magogue. Viés autoritário poluindo a paisagem política: o STF é caracterizado como politizado e injusto, seu presidente e alguns dos seus membros hostilizados e ridicularizados; o Congresso uma instituição incompetente, volúvel e corrupta, ativamente demonizada nos pasquins digitais das redes sociais e Tuítes de agentes públicos. Guerra cultural borrando a linha de separação Estado-Igreja.
Surpreendidos pela contundência do descontentamento e desconfiança do povo nas eleições de 2018, políticos da direita ou da esquerda, se mostram incapazes de encontrar soluções fora da órbita partidária, conchavos ou do quid por quo do varejo político, exacerbando profundas divisões na população que continuam se ampliando, ameaçando a estabilidade da República e a elusiva promessa de Ordem e Progresso.